A Crucificação em Detalhes
Jesus poderia ter gerado vários filhos antes da crucificação.
Entretanto, se ele sobreviveu à crucificação, a probabilidade de que ele tenha deixado prole se torna maior. Existe alguma evidência de que Jesus sobreviveu à crucificação, ou de que a crucificação foi uma fraude?
Dada a descrição que os Evangelhos fazem dele, é inexplicável que Jesus tenha sido crucificado. De acordo com os Evangelhos, seus inimigos eram os interesses judeus estabelecidos em Jerusalém. Mas tais inimigos, se existiram, poderiam tê-lo apedrejado até a morte por decisão própria, sem envolver Roma no assunto. De acordo com os Evangelhos, Jesus não tinha querelas particulares com Roma e não violou a lei romana. Ainda assim, foi punido pelos romanos, de acordo com a lei romana e segundo procedimentos romanos. E foi punido com a crucificação, reservada exclusivamente aos culpados de crimes contra o império. Se Jesus foi mesmo crucificado, ele não pode ter sido tão apolítico como descrevem os Evangelhos. Ao contrário. Deve ter feito alguma coisa para provocar a ira de Roma - por oposição à ira judia.
Quaisquer que tenham sido as infrações pelas quais Jesus foi crucificado, sua morte aparente na cruz é inundada de inconsistências. Simplesmente não existe razão para concluir que sua crucificação tenha sido, como dizem os Evangelhos, fatal. A alegação de que o foi merece um exame detalhado.
A prática de crucificação se atinha a procedimentos muito precisos.
Após a sentença, a vítima devia ser chicoteada, ficando enfraquecida pela perda de sangue. Seus braços abertos deviam então ser fixados - usualmente através de cordas, mas às vezes através de pregos – a uma pesada barra de madeira colocada horizontalmente ao longo do pescoço e dos ombros. Ele seria levado ao local de execução portando esta barra. Aí, a barra, com a vítima pendurada, seria levantada e atada a um poste ou estaca vertical.
Pendurada pelas mãos, a vítima não poderia respirar - a menos que seus pés fossem também fixados na cruz, o que possibilitaria um apoio e liberaria a pressão no peito. Mas, a despeito da agonia, um homem suspenso e com os pés fixos - especialmente um homem forte e saudável- poderia sobreviver por um dia ou dois. A vítima poderia levar até uma semana para morrer - de exaustão, de sede ou, se fossem usados pregos, de envenenamento sanguíneo. A agonia podia ser terminada mais rapidamente quebrando-se as pernas ou os joelhos da vítima - o que, segundo os Evangelhos, os executores de Jesus estiveram a ponto de fazer, quando foram impedidos. Nesse contexto, quebrar pernas ou joelhos não era um tormento sádico adicional. Pelo contrário, era um ato de misericórdia, um coup de grâce que produzia uma morte mais rápida. Sem suporte, a pressão no peito da vítima se tornava intolerável, sobrevindo logo a asfixia.
Existe um consenso entre os estudiosos modernos de que somente o quarto Evangelho se baseia na narrativa de uma testemunha ocular da crucificação. De acordo com esse Evangelho, os pés de Jesus foram fixados na cruz - liberando assim a pressão em seus músculos peitorais - e suas pernas não foram quebradas. Assim, pelo menos em teoria, ele deve ter sobrevivido por uns bons três dias. Mas após umas poucas horas na cruz, no entanto, ele é declarado morto. No Evangelho de Marcos (15:44), até Pilatos é surpreendido pela rapidez com que a morte ocorre.
Qual pode ter sido a causa da morte? Não foi a estocada em seu peito, pois o quarto Evangelho (João 19:33) afirma que Jesus já estava morto quando este ferimento foi causado. Só existe uma explicação: uma combinação de exaustão, fadiga, debilidade e trauma causado pelos castigos. Mas nem mesmo estes fatores teriam sido fatais tão rapidamente. É possível, é claro, que tenham sido; a despeito das leis gerais da fisiologia, um homem pode morrer por causa de um único golpe relativamente inócuo. Mas há ainda algo suspeito em relação ao assunto. Segundo o quarto Evangelho, os executores de Jesus estão a ponto de lhe quebrar as pernas e acelerar assim sua morte. Por que a preocupação, se ele já estava moribundo? Em suma, não haveria razão para quebrar as pernas de Jesus, a menos que a morte não fosse iminente.
Nos Evangelhos, a morte de Jesus ocorre em um momento muito conveniente, muito oportuno. Ocorre exatamente em tempo de impedir seus executores de quebrar suas pernas. E assim se concretiza uma profecia do Velho Testamento. Autoridades modernas concordam quanto à possibilidade de que Jesus tenha modelado e talvez manipulado sua vida de acordo com tais profecias, que anunciavam a vinda de um Messias: Por esta razão, por exemplo, um asno teve de ser encontrado em Betânia, para que ele fizesse sua entrada triunfal em Jerusalém. E os detalhes da crucificação parecem engendrados de forma similar para encenar as profecias do Velho Testamento.
Em suma, o fim aparente e oportuno de Jesus - que, em uma pequena fração de tempo, o salva da morte certa e lhe possibilita confirmar a profecia - é, para dizer o mínimo, suspeito. É muito perfeito, muito preciso, para ser coincidência. Deve ter sido ou uma interpolação posterior ao fato, ou parte de um plano cuidadosamente concebido.
Muitas evidências apóiam a segunda possibilidade.
No quarto Evangelho, Jesus, pendurado na cruz, declara ter sede. Em resposta à sua reclamação, é atendido com uma esponja embebida supostamente em vinagre - um incidente que também ocorre nos outros Evangelhos. Essa esponja é geralmente interpretada como outro ato de sadismo. Mas foi realmente isto o que aconteceu? O vinagre - ou vinho azedo - é um estimulante temporário, com efeitos similares aos dos sais de cheiro. Na época, era utilizado freqüentemente para reanimar escravos que fraquejavam nas galeras.
Para um homem ferido e exausto, cheirar ou provar vinagre induziria um efeito restaurador, um sopro momentâneo de energia. Mas no caso de Jesus o efeito é o contrário. Logo depois de inalar ou provar a esponja ele pronuncia suas palavras finais e falece. Tal reação ao vinagre é fisiologicamente inexplicável. Por outro lado, tal reação seria perfeitamente compatível com uma esponja embebida não em vinagre mas em algum tipo de sonífero - um composto de ópio e beladona, por exemplo, comumente empregados no Oriente Médio na época. Mas por quê? A menos que este ato, juntamente com outros componentes da crucificação, tenha sido elemento de uma estratégia complexa e engenhosa, planejada para produzir um semblante de morte enquanto a vítima estivesse ainda com vida. Tal estratagema teria não só salvo a vida de Jesus mas também confirmado as profecias do Velho Testamento sobre um Messias.
Existem outros aspectos anômalos, que apontam para um estratagema na crucificação. De acordo com os Evangelhos, Jesus é crucificado em um local chamado Gólgota, "o lugar do crânio". A tradição posterior tenta identificar Gólgota com uma montanha árida, mais ou menos na forma de um crânio, a noroeste de Jerusalém. Mas os próprios Evangelhos deixam claro que o local da crucificação é muito diferente de uma montanha árida com forma de crânio. O quarto Evangelho é mais explícito (João 19:41): "No lugar onde Jesus foi crucificado havia um horto; e neste horto um sepulcro novo, em que ninguém ainda tinha sido depositado." Então, Jesus não foi crucificado em uma montanha árida em forma de crânio, nem em qualquer outro local público de execução. Foi crucificado em um jardim que continha uma tumba particular, ou nas suas proximidades. De acordo com Mateus (27:60), essa tumba e esse jardim eram propriedade pessoal de José de Arimatéia, que, segundo os quatro Evangelhos, era um homem rico e um discípulo secreto de Jesus.
A tradição popular descreve a crucificação como um assunto público de grande escala, acessível à multidão e presenciado por milhares de pessoas. Mas os próprios Evangelhos sugerem circunstâncias muito diferentes. De acordo com Mateus, Marcos e Lucas, a crucificação foi testemunhada de longe pela maioria das pessoas, incluindo as mulheres (Lucas 23:49). Parece claro, então, que a morte de Jesus não foi um evento público, mas privado; uma crucificação privada realizada em propriedade privada. Vários estudiosos modernos argumentam que o local foi provavelmente o Jardim de Gethsemane.
Se Gethsemane era realmente terreno privado de um dos discípulos secretos de Jesus, isto explicaria por que Jesus, antes da crucificação, podia fazer uso do local livremente.
É desnecessário dizer que uma crucificação em propriedade privada deixa margem a uma falsificação, uma farsa, um ritual teatral genialmente planejado. Ao povo em geral, o drama teria sido visível apenas à distância, como confirmam os Evangelhos sinópticos. E de tal distância não teria ficado claro quem de fato estava sendo crucificado. Ou se estava realmente morto.
Tal engodo teria necessitado, é claro, de alguma conivência e participação por parte de Pôncio Pilatos ou de alguém influente na administração romana. Tal conivência e participação são altamente prováveis. Ora, Pilatos era um homem cruel e tirânico. Mas era também corrupto e susceptível a subornos. O Pilatos histórico, ao contrário daquele descrito nos Evangelhos, estaria disposto a poupar a vida de Jesus, em troca de uma quantia de dinheiro e talvez uma garantia de não mais haver agitação política.
Qualquer que tenha sido sua motivação, não há dúvida de que Pilatos estivesse intimamente envolvido no assunto. Ele reconhece Jesus como "rei dos judeus". Também revela, ou finge revelar, surpresa diante do fato de Jesus expirar tão rapidamente. E, talvez o fato mais importante, ele concede o corpo de Jesus a José de Arimatéia.
De acordo com a lei romana da época, um homem crucificado não tinha direito a funeral. Guardas eram costumeiramente postados para impedir que parentes ou amigos removessem os corpos do morto. A vítima era simplesmente deixada na cruz, à mercê dos elementos e das aves de rapina. Mas Pilatos, em uma quebra flagrante do procedimento, concede o corpo de Jesus a José de Arimatéia. Isto atesta claramente alguma cumplicidade. E pode atestar também outras coisas.
Na tradução inglesa do Evangelho de Marcos, José pede o corpo de Jesus a Pilatos. Pilatos revela surpresa pela morte de Jesus, vai verificá-la com um centurião e então, satisfeito, atende ao pedido de José. A primeira vista, isto poderia parecer normal; mas na versão original grega do Evangelho de Marcos, o assunto se torna mais complicado. Nela, quando José pede o corpo de Jesus, ele utiliza a palavra "soma", aplicada somente a um corpo vivo. Pilatos, consentindo, emprega a palavra "ptoma", que significa cadáver. De acordo com o grego, então, José pede explicitamente um corpo vivo e Pilatos lhe dá o que pensa, ou finge pensar, ser um corpo morto.
Dada a proibição de enterrar homens crucificados, é também extraordinário que José tenha recebido o corpo. Em que bases ele o recebeu? Que direitos tinha para isso? Se era um discípulo secreto, ele não poderia reclamar algo que revelasse seu segredo - a menos que Pilatos já soubesse disto, ou que existisse algum outro fator a favor de José.
Existe muito pouca informação sobre José de Arimatéia. Os Evangelhos dizem apenas que ele era um discípulo secreto de Jesus, possuía grande fortuna e pertencia ao Sanhedrin, o conselho dos anciãos que governava a comunidade judia de Jerusalém sob os auspícios romanos. Seria então claro que José era um homem influente. Esta conclusão é confirmada por suas negociações com Pilatos e pelo fato dele possuir um território com uma tumba particular.
A tradição medieval descreve José de Arimatéia como um guardião do cálice sagrado. Parsifal teria sido de sua linhagem. De acordo com outras tradições posteriores, ele tem relação de sangue com Jesus e com a família de Jesus. Se isto é verdade, ele possuiria algum direito ao corpo de Jesus: Pilatos não concederia o cadáver de um criminoso a um estranho, mas bem poderia, com o incentivo de um suborno, concedê-lo a um parente. Se José - um rico e influente membro do conselho - era realmente parente de Jesus, isso testemunha uma vez mais a genealogia aristocrática de Jesus. E se ele era parente de Jesus, sua associação com o cálice sagrado - o "sangue real" – seria explicável.
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