Quem era Barrabás?
Existe nos Evangelhos alguma evidência de que Jesus teve filhos?
Explicitamente, não. Mas ter filhos era algo esperado de rabinos; e se Jesus era um rabino, seria muito estranho que não tivesse filhos. Na verdade, mesmo que não fosse rabino isto seria estranho. É claro que estes argumentos, por si sós, não constituem uma evidência positiva.
Mas existe uma evidência mais concreta e específica. Ela consiste na vaga pessoa que aparece nos Evangelhos como 'Barrabás ou, para ser mais preciso, como Jesus Barrabás - pois com este nome ele é identificado no Evangelho de Marcos. A coincidência é no mínimo chocante.
Estudiosos modernos hesitam quanto à derivação e ao significado de "Barrabás". Jesus Barrabás pode ser uma distorção de "Jesus Berabbi". "Berrabi" era um título reservado aos mais altos e importantes rabinos, sendo colocado após o nome do rabino. Assim, Jesus Berabbi pode ser uma referência ao próprio Jesus. "Jesus Barrabás" também pode ter sido originalmente "Jesus bar Rabbi", ou seja, "Jesus, filho do rabino". Não existe nenhum registro de que o pai de Jesus fosse um rabino. Mas se Jesus tivesse tido um filho com o seu nome, este teria sido "Jesus bar Rabbi", Existe outra possibilidade. Jesus Barrabás pode derivar de "Jesus bar Abba",
Como Abba, em hebreu, significa pai, Barrabás poderia significar "filho do pai" - uma designação sem sentido, a menos que o "pai" fosse de alguma forma especial. Se pai se referisse, na verdade, ao "pai eterno", então Barrabás poderia de novo estar se referindo ao próprio Jesus. Por outro lado, se o próprio Jesus era o "pai", então de novo Barrabás estaria se referindo a seu filho.
Qualquer que seja o significado e a derivação do nome, o personagem Barrabás é extremamente curioso. E quanto mais se considera o incidente relacionado com ele, mais claro se torna que existe alguma coisa irregular. Alguém está tentando ocultar alguma coisa. Em primeiro lugar, o nome de Barrabás, como o de Madalena, parece ter sido denegrido de forma deliberada e sistemática. Assim como a tradição popular descreve Madalena como uma prostituta, descreve Barrabás como um ladrão. Mas se Barrabás fosse qualquer uma das coisas que seu nome sugere, ele dificilmente teria sido um ladrão comum. Por que então denegrir seu nome? A menos que ele fosse algo mais, que os editores do Novo Testamento não quiseram revelar para a posteridade.
Os próprios Evangelhos não descrevem Barrabás como um ladrão em sentido estrito. Segundo Marcos e Lucas, ele era um prisioneiro político, um rebelde acusado de assassinato e insurreição. No Evangelho de Mateus, entretanto, Barrabás é descrito como um "prisioneiro notável". E no quarto Evangelho, é mencionado como sendo (em grego) um lestai. (João 18:40), termo que pode ser traduzido como ladrão ou como bandido. Entretanto, no contexto histórico, isto significava alguma coisa bem diferente. Lestes era um termo habitualmente atribuído pelos romanos aos zelotes, os revolucionários nacionalistas que vinham fomentando o levante social.
Como Marcos e Lucas concordam em que Barrabás é culpado de insurreição, e como Mateus não contradiz esta afirmação, é seguro concluir que Barrabás era um zelote.
Mas esta não é a única informação disponível sobre Barrabás. De acordo com Lucas, ele tinha se envolvido em um distúrbio recente, uma sedição ou confusão na cidade. A história não menciona qualquer confusão em Jerusalém na época. Mas os Evangelhos, sim. De acordo com eles, houve um distúrbio cívico em Jerusalém poucos dias antes, quando Jesus e seus seguidores viraram as mesas dos emprestadores de dinheiro no Templo. Foi este o distúrbio no qual Barrabás se envolveu e pelo qual foi aprisionado? Parece provável.
Neste caso, uma conclusão óbvia se impõe: Barrabás pertencia ao grupo de Jesus.
Segundo estudiosos modernos, não existia o costume de libertar um prisioneiro durante o festival judeu. Mas mesmo que existisse, a escolha de Barrabás no lugar de Jesus não faria sentido. Se Barrabás era realmente um criminoso comum, culpado de assassinato, por que iria o povo escolher que sua vida fosse poupada? E se ele era realmente um zelote ou um revolucionário, é pouco provável que Pilatos tivesse libertado um personagem potencialmente tão perigoso, no lugar de um visionário inofensivo, que estava explicitamente disposto a "se render a César". De todas as discrepâncias, inconsistências e improbabilidades dos Evangelhos, a escolha de Barrabás está entre as mais chocantes e mais inexplicáveis. Alguma coisa houve, certamente, por trás de um arranjo tão desajeitado e confuso.
Um escritor moderno propõe uma explicação intrigante e plausível: sugere que Barrabás era filho de Jesus e que Jesus era um rei legítimo. Se fosse o caso, a escolha de Barrabás faria sentido. Devese considerar uma população oprimida, confrontada com o extermínio iminente de seu líder espiritual e político, o Messias, cujo advento havia despertado tantas esperanças. Em tais circunstâncias, não seria a dinastia mais importante que o indivíduo? A sobrevivência de uma estirpe não seria prioritária em relação a qualquer outra coisa? Não iria o povo, ao ser confrontado com a terrível escolha, preferir ver seu rei sacrificado para que sua prole e sua linhagem pudessem sobreviver? Se a linhagem sobrevivesse, haveria pelo menos uma esperança para o futuro.
Não é impossível que Barrabás tenha sido filho de Jesus. Acredita-se que Jesus tenha nascido por volta do ano 6 a.C. A crucificação ocorreu antes de 36 d.C., o que daria a Jesus, no máximo, a idade de 42 anos. Mas mesmo que ele só tivesse 33 anos quando morreu, ele pode ter tido um filho. De acordo com os costumes da época, ele pode ter se casado aos dezesseis ou dezessete anos. Mas mesmo que não se tenha casado antes dos vinte, ele pode ter tido um filho de treze anos - que, pela lei judaica, seria considerado um homem. E, certamente, podem ter havido também outros filhos, concebidos em qualquer época, até um dia antes da crucificação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário