sábado, 21 de maio de 2016

A Lenda dos Merovíngios (Parte 09)

A Exclusão de Dagobert II da História

Com a morte de Dagobert II em 679, a dinastia merovíngia efetivamente terminou. Com a morte de Childeric III em 755, os merovíngios aparentemente desapareceram por completo da história.
Segundo os Documentos do Monastério, contudo, a linhagem merovíngia sobreviveu, tendo sido perpetuada até hoje a partir do infante Sigisbert I, filho de Dagobert com sua segunda esposa, Giselle de Razès.
Não existem dúvidas de que Sigisbert existiu e que era herdeiro de Dagobert. Segundo todas as fontes exteriores aos Documentos do Monastério, entretanto, não se sabe o que aconteceu com ele. Certos cronistas têm aceito tacitamente que ele foi assassinado juntamente com seu pai e os outros membros da família real. Uma narrativa muito duvidosa assegura que ele morreu em uma caçada, por acidente, um ano ou dois após a morte do pai. Se isto for verdade, Sigisbert deve ter sido um caçador bastante precoce, pois ele não tinha mais do que três anos na época.
Não existe nenhum registro da morte de Sigisbert. Tampouco existe qualquer registro - à parte as evidências dos Documentos do Monastério - de sua sobrevivência. Todo o assunto parece ter sido perdido nas névoas do tempo, e ninguém parece interessar-se muito por isso - exceto, é claro, o Monastério do Sinai, que parece possuir informações não disponíveis em outras fontes, ou deliberadamente suprimidas, ou consideradas desimportantes demais para merecer investigação.
Não é de se surpreender que nenhuma narrativa do destino de Sigisbert tenha sido filtrada até chegar a nós. Nenhuma narrativa sobre o próprio Dagobert esteve acessível ao público até o século XVII. Em algum momento, durante a Idade Média, foi feita uma tentativa sistemática de apagar Dagobert da história, de negar que ele um dia tenha existido. Hoje Dagobert II pode ser encontrado em qualquer enciclopédia. Mas não há nenhum reconhecimento de sua existência até 1646. Qualquer lista ou genealogia de governantes franceses compilada antes desse ano simplesmente o omite, saltando, a despeito da flagrante inconsistência, de Dagobert I para Dagobert III, um dos últimos monarcas merovíngios, que morreu em 715. Só em 1655 Dagobert foi reintegrado em listas aceitas de reis franceses.
Considerando esse processo de esquecimento proposital, a escassez de informação sobre Sigisbert não deveria constituir nenhuma surpresa. Qualquer informação existente deveria ter sido deliberadamente suprimida.
Por que Dagobert II deveria ser suprimido da história? O que estaria sendo ocultado? Por que se deveria negar até mesmo a existência de um homem? Uma possibilidade seria, é claro, a de negar assim a existência de seus herdeiros. Se Dagobert nunca existiu, Sigisbert tampouco poderia ter existido. Mas por que deveria ser tão importante, muito mais tarde, no século XVII, negar que Sigisbert um dia existira?
A menos que ele tivesse realmente sobrevivido e que seus descendentes fossem considerados uma ameaça.

Tínhamos a impressão de estar lidando com algum tipo de pacto de encobrimento. É evidente que interesses velados seriam prejudicados, caso a sobrevivência de Sigisbert fosse tornada pública. No século IX e talvez já no tempo das Cruzadas, esses interesses pareciam ser a Igreja Romana e a linhagem real francesa. Mas por que o assunto continuaria a ter importância na época de Luís XIV? Nessa época, este deveria ser um ponto meramente acadêmico, pois três dinastias francesas tinham ido e vindo, e o protestantismo tinha quebrado a hegemonia romana. A menos que houvesse algo de muito especial no sangue merovíngio. Não, é claro, propriedades mágicas, mas algo mais - algo que mantivesse sua potência explosiva mesmo depois do fim das superstições sobre o sangue mágico.

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