quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O Paraíso Terrestre (parte 01)

Jardim do Éden nos primórdios da humanidade.

Era uma vez, na aurora dos tempos, um reino de maravilhas incalculáveis, repleto de árvores frutíferas e animais graciosos, onde o solo era fértil e os lagos, puros e cristalinos. Nesse lugar, em meio as grutas e cachoeiras, Adão, o primeiro homem, vivia feliz com sua esposa, Eva, sob a proteção direta do pai, a quem chamavam ''Senhor''.
O Jardim do Éden era um oásis de inesgotáveis recursos, situado na confluência dos Rios Tigre e Eufrates, a sudeste da Mesopotâmia. Quem de suas fontes bebia se tornava imortal, e fora nessas condições que Adão por séculos habitara em tais matas, sem conhecer a dor e o medo, o sofrimento e a morte.
O jardim tinha sete portões e quatro rios, que o cortavam de leste a oeste e de norte a sul, irrigando os campos de forma abundante, atenuando o calor, semeando flores de beleza ancestral, germinando bosques muito verdes e copiosos. Dentro desse refúgio, os dias seguiam uma nobre rotina. e. enquanto Eva coletava raízes, o primeiro homem caçava.
Certa tarde, Adão notou uma gazela que saltitava e deu uma volta numa gigantesca figueira. Ergueu o corpo, afastou o cabelo, esperou o momento propício e atirou sua lança. O animal caiu as margens de um riacho, o pescoço sangrando, os olhos embaçados. O ferimento era grave, então ele correu sobre a relva, agarrou uma pedra e se preparou para deslanchar o golpe de misericórdia, quando percebeu que acertara uma fêmea, o ventre dilatado, as mamas duras, cheias de leite.
Deteve-se. O braço tremeu e ele sentiu uma angústia profunda, pensando nas crias que nunca nasceriam, que não gozariam o contato com a mãe. Sendo assim, o consternado Adão se ajoelhou e chorou, desejando que nunca tivesse partido naquela aventura, e foi então que um ser se materializou a seu lado. A figura, inicialmente translúcida, aos poucos se condensou numa entidade física, muito parecida com um homem comum, de meia-idade, a barba crespa, a calvície formando entradas na testa, o corpo robusto, os pelos grossos.
Das costas nascia um par de asas cor de areia, e sua expressão ora era terna, ora severa, como de fato deveria ser a atitude de um pai. Porque chora Adão? -- trovejou o Senhor, as asas se espichando, os pés descalços roçando na grama. -- Oh, pai. Fui cego e estúpido. Não enxerguei que esta presa gestava e agora a condenei, assim como toda a sua linhagem. Como posso privar qualquer um, seja homem, planta ou animal, de experimentar as riquezas do Éden?
Não se entristeça -- tranquilizou-o o ente barbudo. Pois saiba, meu discípulo, que fui eu quem o confundi. Como? -- O rapaz se levantou. Enxugou as lágrimas com o dorso da mão, engoliu a saliva em excesso. -- Porquê?
Estou sempre a testá-los. É essa a minha função. Ofusquei sua vista de propósito, para observar o que faria a seguir e como agiria em face do dilema. Mesmo faminto, você se recusou a esmagar o pobre animal. Por quê?
Porque o que fiz foi errado, minha alma me diz que é errado. Sua alma lhe serve a contento. Portanto, escute-me agora. Bem e mal não são simplesmente pontos de vista, mas existem perante o universo. Certo e errado são leis ecumênicas, forças superiores a você, superiores a mim, inclusive, e que devem ser respeitadas.
Dito isso, o Senhor se aproximou do bicho e como por mágica o ferimento sarou, todo o sangue se esvaiu, até que a gazela voltou a andar. -- Eis mais uma de minhas diretrizes, mas um de meus mandamentos. Não se esqueça dele. Zele para que a terra perpetue seus frutos, preserve as sementes comestíveis e nunca, jamais tire a vida de uma fêmea em gestação. Essas regras são minhas e, como meu herdeiro, serão suas também.
Como um aluno obediente, o homem concordou, alegre por testemunhar a façanha. Naquele dia, Adão guardou a lança, retornou a sua cabana e deitou-se com Eva. Os dois comeram juntos, degustando raízes, e contemplaram o poente.
A sombra da mesma figueira, o Senhor observou Adão se afastando. No interior daquele santuário, onde tudo era inocente e sagrado, o tecido da realidade, a cortina mística que separa os planos físico e espiritual, afinara-se a tal ponto que nem os anjos, criaturas de substância puramente celeste, encontravam problemas para se manifestar em suas formas verdadeiras, conjurando suas armas, armaduras e asas.

Manuscrito Sagrado dos Malakins (parte 03)

No princípio não havia nada, apenas o caos, e quem o governava era Tehom, a suprema força da escuridão e das trevas. O espírito de Deus, Yahweh, pairava sobre a face do abismo, reunindo em si tudo o que era justo, o que era bom, o que era certo e luminoso.
Naqueles dias, anteriores mesmo ao contínuo do tempo, claridade e negrume se enfrentaram nos obscuros cantos das fossas primevas. Tehom tinha a seu lado uma miríade de seres disformes, dentre os quais Behemot era o mais elevado.
Yahweh concebeu a seu modo os cinco arcanjos, e eram eles Miguel (O Príncipe dos Anjos), Gabriel (O Mestre do Fogo), Rafael (A Cura de Deus), Uziel (O Marechal Dourado), Lúcifer (A Estrela da Manhã). Munidos de espadas brilhantes, esses alados combateram a espreita do pai e, após incontáveis duelos, baniram seus oponentes do universo comum. E houve, enfim, um primeiro dia.
No amanhecer do segundo dia, Deus fez a luz e, ao entardecer, esculpiu um sem-números de entes divinos, os anjos, para ajudá-lo na feitura do espaço. O primeiro anjo foi Metraton. Forjado no núcleo escaldante da grande explosão, ele serviu de molde para os celestiais que nasceriam a seguir.
Inspirado em Metraton, Yahweh organizou os celestes em sete castas, cada qual dotada de poderes místicos e de uma natureza específica, diretamente associados a suas tarefas na criação. Surgiram assim anjos guerreiros, burocratas, juízes, anjos da guarda e toda sorte de entidades servindo sob as ordens do céu.
No terceiro dia, Deus e seus sectários deram forma as estrelas, as constelações e nebulosas, e no quarto dia aos planetas, estéreis e cinzentos, até que o universo pariu seu maior santuário: um astro repleto de cor e de vida, batizado, no primórdios, de Éden.
O Éden, ou Terra, era um mundo diferente dos outros, onde todas as coisas estavam ligadas, cada rio, cada floresta, cada sopro do vento, cada gota no oceano, como uma teia que a todos cercavam e unia. Brotaram da água seres, os mais diversos, anfíbios e peixes, moluscos e répteis, e houve, com isso, um quinto dia.
No sexto dia, a seleção natural refinou as espécies, tonando-as espertas e inteligentes. Uma delas se espalhou pelo globo, dando origem ao homem, considerado por Deus seu trabalho mais primoroso.
Cansado e ao mesmo tempo fascinado, Yahweh presenteou os seres humanos com uma fagulha de sua essência imortal, a alma, e ordenou aos alados que se curvassem a eles, lhes servissem e os adorassem.
Então, antes de partir para o eterno descanso, entregou aos arcanjos a regência do céu e designou um coro para governar sobre a terra, com o encargo de orientar os mortais, sem, contudo, interferir em suas ações.
Como autênticos defensores da humanidade, esses observadores solenes foram chamados de sentinelas, e seu líder, Metatron, nomeado Rei dos Homens sobre a Terra.
Sem a tutela de Deus, porém, a paz não se sustentaria por muito tempo. No raiar do sétimo dia, um dos arcanjos, Lúcifer, recusou-se a venerar os terrenos, sendo ele uma criatura de luz, um dos herdeiros direto do cosmo.
Secretamente, Lúcifer manipulou seu irmão Miguel, que planejou um genocídio, mas para que a catástrofe, para que qualquer catástrofe tivesse efeito seria preciso, antes, desafiar os sentinelas, responsáveis por salvaguardar o planeta.
Lúcifer empregou várias artimanhas para que Metraton perdesse a fé, e, quando todas elas falharam, o arcanjo Gabriel em pessoa foi mandado ao plano físico com a incumbência de convencer o Rei dos Homens a retornar as alturas, mas este se negou, afinal sua missão fora outorgada por Deus.
No curso desses primeiros séculos, Metraton e seus anjos sucumbiram aos desejos carnais, cultivando esposos e esposas, gerando filhos e filhas, e jamais rejeitariam seus lares nem permitiriam que alguém os tomasse.
Ao repudiar a hecatombe, os sentinelas foram caçados, o que os obrigou a se esconder e a fugir. Muitos acabaram mortos, até Metraton ser finalmente preso e arrastado a detenção no Segundo Céu, a Gehenna. Seus postos nas sociedades primitivas foram ocupados pelos elohins, agentes leais ao príncipe Miguel, e a seguir vieram os cataclismos, a grande erupção dos vulcões, os terremotos e por fim o dilúvio, que reduziu ainda mais o seu número.
Depois disso, não só o reino físico, mas também o paraíso se transformaram. Os arcanjos eram como os cinco dedos de uma mão, e Metraton, seu antagonista, era o punho que os mantinha coesos. Com o Rei dos Homens capturado e sua revolta esmagada, a união dos primogênitos ruiu.
Primeiro foi Lúcifer, que por inveja e ganância se opôs aos irmãos e acabou atirado ao inferno. Séculos mais tarde, Gabriel, exausto de tanto sangue e matança, rebelar-se-ia contra o tirânico Miguel, dando início a guerra civil que hoje se alastra pelas sete camadas celestes.
Incapaz de aceitar os parentes brigando, Rafael, a Cura de Deus, preferiu abandonar a família e se isolar em alguma dimensão paralela. De modo que não fosse visto, ou tratado como mártir, Metraton foi poupado da execução e esquecido no cárcere por anos, para de lá escapar, agora que o Apocalipse se anuncia.
Dos calabouços da Gehenna surgiu o boato de que, enlouquecido, ele traçou o plano em silêncio, descobrindo um jeito de retomar seu santuário perdido, tornando-se não apenas o salvador da raça humana, mas o único deus soberano sobre o mundo.
Antes da grande batalha do Armagedon, antes que o sétimo dia encontre seu fim, os antigos aliados, Miguel e Gabriel, atuais adversários, deparam-se com uma nova e perigosa ameaça, uma que já consideravam vencida: a eterna luta entre o sagrado e o profano, entre os arcanjos e os sentinelas, que novamente, e pela última vez, se baterão pelo domínio da terra, agora e para sempre.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

As Ruínas Khmer

As ruínas Khmer são genuínas e resistiram as intempéries da floresta por quase sete séculos.
o mais impressionante desses sítios arqueológicos é a antiga capital do império, Angkor, situada no nordeste do Camboja. O parque ocupa uma área de 200 km² e dispõe de nada menos que setenta templos, entre eles o magnífico Angkor Wat, o maior complexo religioso do mundo.
O domínio dos chamados ''reis-deuses Khmer'' começou por volta do ano 800 e se estendeu, em seu esplendor, do mar da China Meridional a baía de Bengala, até a transferência da cprte para Phnom Penh, no sul, em 1432.

Os Soviéticos e As Experiências Psíquicas

Telecinesia, telepatia, clarividência. A ciência tradicional nunca comprovou tais fenômenos, e há céticos, como o pesquisador canadense James Randi, que oferece um milhão de dólares a quem for capaz de reproduzir qualquer um desses efeitos em ambiente controlado de um laboratório.
Hoje é sabido que os soviéticos se interessavam pelo assunto e conduziram pesquisas relacionadas a paranormalidade nos porões da Moscou comunista. Essas experiências eram apenas mais uma das centenas de recursos testados para propósitos de espionagem e infiltração, mas se elas realmente deram resultado é algo que permanece um mistério.
Um desses supostos paranormais atuantes na União Soviética foi o polonês Wolf Messing (1899-1974), cujas ''previsões'' foram tomadas como verdade tanto por Adolf Hitler quanto, mais tarde, por Josefh Stálin, o então líder do país socialista. Messing se declarava um ''telepata'' e dizia ter poderes fortes o suficiente para afetar a percepção das pessoas.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, ele foi levado a União Soviética, onde fez carreira como mágico. Por diversas vezes, Messing foi chamado ao Kremlin por dirigentes do Estado, que procuravam seus conselhos.
Conta-se que o próprio Nikita Khrushchev, secretário-geral do Partido Comunista entre 1953 e 1964, chegou a consultá-lo sobre a crise dos mísseis cubanos, em 1962.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O Café Le Procope

O Café Le Procope, não só é autêntico como existe até hoje. Ele é considerado o restaurante mais antigo de Paris, estando em funcionamento contínuo desde 1686. O estabelecimento ganhou notoriedade pelos clientes ilustres, como os filósofos Voltaire e Jean-Jacques Rousseau e os ''pais fundadores'' dos Estados Unidos: Thomas Jefferson e Benjamin Franklin, que lá estiveram no século XVIII.

Marie et Louise

A aldeia de Marie et Louise, foi inspirada no monte Saint-Michel, uma fortaleza medieval localizada na costa da França, entre a Normandia e a Bretanha.
Durante o turno da noite, a maré sobe e a cidade fica completamente ilhada. Hoje, existe um aterro que permite a travessia de carros, mas no período feudal os pântanos adjacentes representavam uma barreira natural ao invasores.
A igreja e a abadia, no topo do monte, são santuários imperdíveis, repletos de vitrais, mosaicos e salões de magnífica beleza.
O monte Saint-Michel está aberto aos turistas e é um dos mais fascinantes destinos da costa francesa, atraindo certa de 850 mil visitantes por ano.

O Castelo de Wewelsburg e o Sol Negro

O castelo é 100% real, inclusive a sua localização, na fronteira entre a Bélgica e a Alemanha. O seu nome verdadeiro é Wewelsurg, em suas instalações hoje funciona um museu.
Tecnicamente, o Wewelsburg é considerado renascentista, mas suas primeiras muralhas datam do século IX. Durante os anos pré-guerra, o terreno ao redor passou direto ao controle da SS. O comandante da tropa e ministro do Reich, Heinrich Himmler, tinha planos para transformá-lo numa escola para cadetes da Schutzstaffel, coisa que nunca chegou a acontecer.
Reporta-se, no entanto, que o lugar foi palco para cerimônias militares, como a iniciação de oficiais e a entrega de medalhas.
O Sol Negro, mais um dos distintivos adotados pelos nazistas, está gravado em mármore no piso de um dos salões da ala norte. Sua origem é tão controversa quanto a da própria suástica, mas acredita-se que a figura do sol em forma de roda, com doze raios partindo do centro, já vinha sendo usada como ornamento pelas tribos germânicas desde o começo da Idade Média.
Os merovíngios que reinaram sobre quase toda a Europa ocidental no século V, costumavam forjar discos decorativos seguindo o mesmo padrão. Seu real significado, todavia, acabaria se perder com o tempo.

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A Sociedade Thule e o Misticismo Nazista

Um dos maiores desafios dos órgãos de propaganda, não importa a época ou o país, é fazer com que o consumidor se sinta especial. "Sua opinião é muito importante para nós". Quantas vezes você já não escutou isso? Com os ideólogos fascistas não foi diferente, e nesse aspecto os historiadores concordam que eles tiveram grande sucesso.
Para erguer o moral de um povo humilhado, arrasado após a derrota na Primeira Guerra Mundial, Adolf Hitler e seus asseclas trabalharam no sentido de incutir na mente dos alemães que cada um deles era parte de ''algo maior'', elos fundamentais de uma grande nação. Nessa esteira veia a ideia de criar irmandades não apenas na esfera militar, mas também entre os civis, dotadas de símbolos próprios, estandartes, uniformes e braçadeiras.
Dessas organizações, a mais influente talvez tenha sido a SS, sigla para Schutzstaffel, ou Tropa de Proteção, a guarda particular do Fuhrer. Na SS, pelo menos em teoria (isso mudaria com o avanço da guerra), só eram admitidos homens considerados ''arianos perfeitos'', uma suposta ''raça superior'' que, acreditem, os nazistas afirmavam descender dos atlânticos.
Como não haveria provas para essa teoria, os cabeças do Reich trataram de forjá-las. Foram então fundados grupos de estudos e financiadas expedições para o Tibete com o objetivo de procurar artefatos que os ligassem a essa ''espécie ancestral''. O plano era que ''evidências concretas'' servissem de base para reconstruir uma mitologia para a Alemanha, sacramentando os germânicos como a etnia mais antiga da terra.
No final das contas, nenhuma pista substancial foi achada, mas os grupos de estudo continuaram trabalhando a todo vapor até a derrocada do III Reich. Pelo que a história registra, a sociedade Thule foi um desses grupos, uma das muitas ''seitas'' dedicadas ao aprendizado do oculto.
Diferentemente do que alguns possam pensar, a prática do ocultismo não está necessariamente relacionada a magia, tampouco a dita ''magia negra'': ela se propõe meramente a analisar certos conhecimentos esquecidos pelas pessoas comuns ou que tenham sido descartadas pelas instituições acadêmicas.
Ninguém sabe se Hitler foi iniciado pela sociedade Thule, mas há certa concordância em dizer que os mentores da ordem instruíram muitos membros do partido no uso de símbolos esotéricos (a exemplo da suástica), gestos e técnicas especiais de comunicação com o público.

Conferência com Os Gigantes


Ablon foi chamado ao Palácio Celestial para conferenciar com os gigantes.
Quem o recebeu logo de entrada foi o Príncipe dos Anjos em pessoa, sentado em seu trono elevado, a armadura de prata brilhando, a espada de fogo na cinta, o rosto marcado por cicatrizes. Lúcifer estava com ele, acomodado em seu próprio assento, desarmado, não trajando nada além de um túnica, as franjas louras descendo as costas, os olhos azuis muito profundos, as asas brancas como flocos de neve.
Ablon cruzou o portão e se ajoelhou perante seus chefes. Usava uma couraça dourada sobre o peito e trazia consigo uma espada. Os cabelos eram flavos, compridos, os olhos cinzentos, e a expressão tinha aspectos felinos, de um leão sempre atento, pronto a atacar num instante.
O líder dos sentinelas continua a vagar pela terra, a conspurcar tudo o que pregamos no céu, disse Miguel, a tarefa de Ablon era descer a Haled e capturá-lo a todo custo. O Primeiro Anjo deve ser preso e escoltado a detenção na Gehenna. Já seus asseclas, caso os encontre, poderão ser mortos, como rebeldes que são.

Quinto Céu, Antes do Dilúvio

Certas histórias não servem para ser contadas. Outras são tão incríveis que sobrevivem ao desgaste do tempo, apesar da tentativa de apagá-las.
Esse foi o caso dos sentinelas, anjos tão fiéis a palavra de Deus que dele receberam graça de se atrelar aos mortais, de descer a Haled e copular com os terrenos.
Há muito tempo,  antes do dilúvio, antes mesmo que os elohins assumissem seus postos na terra, Yahweh enviou ao Jardim do Éden o maior de seus anjos, a quem pediu que zelasse pelos homens como quem guarda seus filhos. O nome desse prodigioso celeste era Metraton, conhecido por uma dezena de títulos, entre eles: O Anjo Supremo, O Rei dos Homens sobre a Terra ou ainda O Primeiro Anjo.
Ocorreu, porém, que em determinado período os cinco arcanjos, governantes supremos do universo, decidiram aniquilar a raça humana. Os sentinelas foram então convocados a ajudá-los nessa matança, entretanto Metraton e seus seguidores se recusaram.
Miguel, o Príncipe dos Anjos, enviou seu irmão, Gabriel, para trazer a força o Rei dos Homens ao paraíso, mas por algum motivo ele acabou fracassando. Desta feita, os sentinelas se tornaram inimigos do céu e foram declarados ilegais no plano físico, sob pena de morte. Era uma questão de honra que eles fossem exterminados e seu líder conduzido a justiça, caso contrário os arcanjos ficariam desmoralizados ante as legiões que comandavam.
Com a derrota de Gabriel, tanto Miguel quanto seu conselheiro, Lúcifer, a Estrela da Manhã, ficaram a deliberar sobre o que fariam a seguir.
Depois de muitos dias e muitas noites, eles tiveram uma ideia. Parecia certo que essa era uma batalha de princípios, acima de tudo, em que o vitorioso seria não necessariamente o mais forte, e sim aquele com o coração mais sincero, que carregasse a causa que considerasse mais justa.
O mais dedicado dos celestes era a época um general chamado Ablon, da casta dos querubins, um formidável guerreiro disposto a tudo para agradar seus senhores. Lutador famoso e herói incansável, Ablon foi chamado ao Palácio Celestial para conferenciar com os gigantes.

Continua em Conferência com Os Gigantes.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Líbano, Berço da Civilização

O Líbano conta com um longo histórico de miscigenação cultural, que remonta a época dos fenícios, inigualáveis navegadores que se fixaram na costa do mediterrâneo por volta de 1.500 a.C.
Localizado na zona conhecida como Crescente Fértil, banhada pelos rios Tigre, Eufrates, Nilo e Jordão, o Líbano foi um dos berços d civilização, ponto de encontro de forasteiros de todas as partes do mundo.
Os níveis de prosperidade dispararam após a fundação de Cartago, antiga colônia marítima que se tornaria a maior potência da Antiguidade, por volta de 300 a.C., atraindo povos os mais diversos, que anos depois seriam os responsáveis por incutir a nação esse caráter heterogêneo, multifacetado.
O país esteve sob controle otomano até o fim da Primeira Guerra Mundial, depois caiu a tutela francesa, para enfim alcançar a independência em novembro de 1943. Com cristãos e muçulmanos trabalhando juntos, o Líbano alcançou níveis de desenvolvimento superiores a muitos de seus vizinhos, atraindo investimentos, abrindo bancos, cassinos e hotéis.
Por trinta anos as diferenças religiosas foram postas de lado, mas tensão cresceu com a chegada dos refugiados palestinos, expulsos de Israel a conclusão da Guerra dos Seis Dias. As disputas sectárias estouraram em 1975, arrastando cristãos e islâmicos a guerra civil, agravada pela intervenção das forças de segurança israelenses, que ocuparam a nação a caça dos capitães da OLP, a Organização para a Libertação da Palestina, um grupo contrário ao estado judeu.
Combates, massacres, atentados terroristas e bombardeios devastaram os principais centros urbanos e lavaram o país, antes rico, a bancarrota.
Como um das nascentes da raça humana, a Fenícia encantara os elohins desde o princípio, que enxergaram nela a chance de se mesclar a terrenos e lá se estabeleceram por séculos. Os reinos de Judá e Israel teriam sido a primeira opção, mas desde as Guerras Etéreas eles já se encontravam ocupados pelas legiões de Miguel, que até hoje guardam a Fortaleza de Sion, o grande bastião dos celestiais no plano etéreo, erguido sobre a cidade física de Jerusalém. Com a destruição da infra-estrutura libanesa, entre 1975 e 1977, a casta poderia ter se desestabilizado.
Em março de 1978, Israel invadiu o sul do Líbano na chamada Operação Litani, estendendo seus braços armados, tanques e tropas até as margens do rio de mesmo nome. O objetivo era acabar com os focos de guerrilha palestina que atacavam o norte do estado judeu, além de neutralizar os dirigentes da OLP.
A incursão obteve relativo sucesso, mas ao custo de três mil morto de ambos os lados e dúzias de casas, prédios e construções demolidas. A polícia apagada, autoridades dispersas, o próprio exército federal inteiramente confuso. Nas ruas, em vez de patrulheiros e guardas de trânsito, o que se encontrava eram combatentes civis, atirando uns contra os outros, disparando obuses, granadas, morteiros, canhões e balas traçantes.
Essa era, portanto, a situação do país na primavera de 1978, com a capital arruinada, as praças entupidas de cadáveres, as avenidas retorcidas em montanhas de concreto, picotadas por estilhaços de bombas, pedaços de foguetes e sucatas de automóveis.
Diante da prefeitura, o asfalto se esfarelara. os edifícios eram esqueletos de aço prestes a desabar, com as paredes perfuradas.
Beirute, afogada em massacres, uma zona de guerra das mais perigosas.

Composição do Universo

O universo é formado por quatro elementos básicos: fogo, terra, água e ar. Da união desses substratos nasce o plasma, enquanto o éter surge na sombra do espaço, aonde tais elementos não chegam.
O éter se propaga entre os planos, na lacuna das dimensões. É o que compõe o tecido* nas camadas mais fundas, separando o mundo astral e o etéreo.
Os babilônicos o chamavam de vácuo, os japoneses o denominaram como vazio, e os indianos o nomearam de akasha. Em síntese, ele é o mais puro solvente cósmico e detém a capacidade de suprimir toda a essência ao simples contato.



* Quando é falado tecido aqui, está
falando da Cortina de Aço ou 
Tecido da Realidade.

A Lança de Nod

Diferentemente dos atlantes, que adoravam os anjos, os homens de Enoque não raro os combatiam. Os magos do extinto reino de Nod forjaram essa lâmina especialmente par confrontar os alados, numa época em que a feitiçaria era abundante e que o poder da raça humana era muito maior.
A Lança de Nod é uma peça única, que passou de geração em geração, sempre empunhada pelos grandes enoquianos, começando por Caim, seu primeiro esgrimista, até se perder durante uma batalha, no curso das Guerras Mediterrâneas.
Desde então, a lança estava desaparecida e era cobiçada pelos próprios celestes, que viam nela a chance de exterminar seus inimigos, sobretudo quando a guerra civil estourou. Seu fio rasga os planos de existência, afetando corpo e espírito, sendo portanto fatal a qualquer criatura, não importando a grandeza ou origem.
Sob uma ótica mais realista, considerando que os mortais carregam na alma o brio de Deus e que foram eles que a fabricaram, eu diria que esta é a arma mais poderosa do cosmo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Portal Inusitado

O que chamamos de portal inusitado é que de todas as passagens cósmicas, os portais são os mais raros, os mais cobiçados e os mais difíceis de ser construídos, especialmente os portais permanentes.
Não são como os atalhos, que apenas ligam dois pontos no mesmo plano de existência (ou seja, plano físico a plano físico, nunca de um plano a outro); os portais se conectam a outras dimensões a partir do mundo físico, transportando os viajantes, quantos forem, a um universo distinto, sem gasto de energia, sem necessidade de desmaterialização, servindo não somente aos anjos, mas também as criaturas terrenas.
Os elohins são da castas que constroem a maioria dos portais.

O Arcanjo Miguel e O Arcanjo Gabriel (Descrição)

De pé a entrada do templo, o príncipe Miguel sempre contempla a imensidão sideral. Dali eram visíveis todas as constelações do universo, os buracos negros e as supernovas, os cinturões de asteroides, os cometas em rotação, os aglomerados e meteoros.
Sua armadura era prateada como os raios da lua, forjada com detalhes em ouro, os desenhos complexos, espelhados. O elmo de queixada pontuda ostentava uma crista vermelha, revelando os negros cabelos compridos, cortados por uma mecha branca acima da testa. O rosto era duro, característico de um campeão, marcado por cicatrizes, a barba rala, e a cintura ele portava a Chama da Morte, sua famosa espada de fogo, embainhada, quieta, respeitando as instruções de seu amo.
À sua frente, nos degraus mais abaixo, meio oculto entre as gélidas brumas da noite, quem o encarava era um visitante improvável, outrora seu maior aliado, agora seu pior inimigo: Gabriel, o Mestre do Fogo, o marechal das tropas rebeldes, que dois mil anos antes deserdara seu irmão. Sua couraça era completa, dourada, com as placas encaixadas sob as obreiras, os adornos metálicos suportando a capa macia, aberta no centro para não comprimir suas asas. O corpo era magro, porém musculoso, os cabelos longos, soltos, cor de mel, e a expressão sempre calma. Trazia também consigo o seu sabre, a Flagelo de Fogo, poderoso o bastante para rasgar as galáxias, temido por deuses, feras e monstros.

Os 7 Níveis do Céu

O primeiro nível foi entregue aos ishins, com seus lagos de fogo, celeiros de neve e tempestades.
O segundo passou a ordem dos hashmalins, onde eles construíram a Gehenna.
O terceiro seria doado aos ofanins, que no entanto preferiram assumir suas funções na Haled.
No quarto céu os querubins estabeleceram castelos e fortalezas.
A quinta camada recebeu a administração dos serafins, que projetaram cidades e catedrais.
O sexto céu é o lar dos malakins.
No sétimo repousa o próprio Deus, supostamente guardado por seu descendente, o arcanjo Miguel.
Desde o princípio, apenas os arcanjos foram permitido o ingresso ao Sétimo Céu. O que lá existe, e assim tem sido por bilhões de anos, é nada menos que o monte Tsafon, uma montanha tão alta, tão larga, que supera a circunferência da Terra, em cujo topo se eleva o Santuário do Alvorecer, uma construção circular sustentada por vigorosas colunas, destinada a conter não só a memória do Pai, mas também o Livro da Vida, um compêndio sagrado, escrito por dentro e por fora, que contém o registro do sétimo dia, descrito em minúcias, do aparecimento do homem a sua queda.

O Universo Como Nós Conhecemos

O universo como nós conhecemos foi criado por Deus a partir de um estalo, uma chispa desencadeada pela fricção dos elementos primevos, batizada pelos alados de fulgiston, o supremo estouro de radiação e energia, desse ponto em diante, surgiram a matéria e o contínuo do tempo, com as partículas se dispersando a uma velocidade absurda, percorrendo a negritude em ondas concêntricas, alargando as bordas do infinito, aos poucos se condensando em manchas solares, corpos que mais tarde dariam origem aos planetas, as estrelas e as nebulosas.
Sob as cristas dessas vagas, nasceram enormes bolsões de antimatéria, esferas alheias ao resto do espaço, algumas pequenas, outras imensas, então chamadas de dimensões paralelas, muitas contendo sucessivas camadas de isolamento, como seções de uma colmeia, dotadas de regras únicas, contudo limitadas em sua extensão, restritas as fronteiras que lhes foram traçadas.
Deslizando sobre os desertos escuros, singrando os oceanos de plasma e carbono, os arcanjos adotaram o paraíso como morada, organizado em sete níveis, prontos a abrigar tanto os gigantes quanto as seis castas angélicas, a exceção dos elohins, que seriam alocados na terra.

Sidarta Gautama

O estado de Bihar é, a propósito, considerado a pátria do budismo, com vários santuários associados a vida e aos ensinamentos de Sidarta Gautama. Sua porção norte constitui uma fértil planície agrícola, banhada pelas águas do rio Ganges, e a parte meridional está coberta por trechos de selva, com picadas densas e estreitas, obstruídas por troncos e cipós, que se embrenham na mata, abraçando cidades ocultas há séculos, escondendo praças e monastérios desocupados.
Os deuses tem aparecido e desaparecer, ir e vir, surgir e apagar ao longo das eras. Essa é a natureza dos deuses indianos.
Para os indianos, Vishnu é o deus da conservação, que dorme no oceano cósmico. De seu umbigo cresce o lótus, sobre o qual descansa Brahma, o deus criador.
Cada vez que Brahma abre os olhos, um universo se cria. Quando ele fecha os olhos, um universo desaparece. Quando ele morre, a flor se desfaz e outro lótus se forma, outro Brahma renasce.

'Que coisa mais louca esses ensinamentos de Sidarta Gautama'.

Os Devas na Índia

Há milhares de anos, quando o tecido da realidade era fino, a Índia fora o lar dos Devas, entidades cósmicas semelhantes aos anjos, mas que trabalhavam em honra dos deuses etéreos, incorporando suas vontades e aspirações para o mundo, fazendo a ponte entre eles e a raça carnal.
Diferentemente dos celestes, porém, essas criaturas não possuíam a capacidade de se manifestar na Haled, então por todo o país os sacerdotes criaram vértices para recebê-los, zonas que mais tarde seriam chamadas de ashrams.
Os ashrams são, até hoje, largamente frequentado pelos indianos, embora o nome seja usado agora para designar qualquer eremitério hindu, não necessariamente aqueles santificados. Sobrevivem ainda, contudo, certos nódulos de energia constante, sítios de peregrinação sazonal, e o mais notável deles é a Árvore do Despertar, o marco onde, acreditam os fiéis, o próprio Buda alcançou iluminação.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Santa Maria Maggiore

Santa Maria Maggiore fica no topo da mais alta das sete colinas romanas, outrora um setor pobre e despojado.
Desde a unificação italiana, porém, a região tem sido restaurada, e seus atrativos, valorizados, entre eles as igrejas históricas, construídas onde, no passado, os cristãos se reuniam em segredo. Erguida no século V, a basílica representa hoje uma mescla de vários estilos. O piso e o campanário são românicos, as janelas são medievais, o teto data do Renascimento, e as cúpulas, bem como a fachada, são características do período barroco.
O portão dianteiro é  guarnecido por uma escadaria em meia-lua.
Acima de tudo, Santa Maria Maggiore é uma das mais belas basílicas de Roma.

A Disputada Cidade de Roma

Há milênios a cidade de Roma está em disputa. Os elohins tiveram seus dias de glória nos tempos do Império, mas perderam todo o esplendor quando anjos de outras castas, especialmente os querubins, abandonaram a terra para lutar o confronto no céu. Bakuno e seus diabretes se tornaram então mais ativos, mais impetuosos, porém decaíram no período do Renascimento.
Desde o século XV o elohins são soberanos. Hoje, anjos, de um lado, e demônios, de outro, travam um duelo particular e secreto pelo controle da Cidade das Sete Colinas. Bakuno almeja reconquistar seu prestígio, e não há outro modo a não ser destruindo os rivais.
Os elohins são versados em manipular o tecido, tornando-o mais rígido ou mais suave, o que os mantém a salvo contra os poderes dos raptores, mas não contra a presteza de um querubim. Os anjos, até mesmo os mais perversos, desprezam os agentes do abismo, considerando-os perdedores.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Passo Nero

Passo Nero era o nome de uma cantina, um restaurante de fachada onde se reuniam os asseclas de Bakuno, e onde ele próprio residia. Ficava ao sul do Trastevere (ainda hoje diz-se que sente nessa região uma forte energia sombria), a área "do outro lado do Tibre", uma região considerada pelos italianos a "autêntica Roma", mais ou menos afastada da agitação dos pontos turísticos.
Caracterizado pela vizinhança de prédios rústicos e pelos clássicos varais suspensos, o Transtevere é também apreciado pelas igrejas medievais, pelos campanários românicos e pelas casas estreitas, escondidas no emaranhado de ruas.
O Passo Nero não era frequentado por clientes comuns, mas pelos maliciosos raptores. Bakuno não ficava a vista. Tal como Yaga, ele desprezava os mortais, detestava tudo o que faziam e portanto evitava se manifestar no plano físico. Permanecia confinado a adega, recolhido a imagem de um borrão oscilante, com chifres, garras e dentes, recebendo seus seguidores, que desciam as escadas para buscar seus conselhos.
O local era sombrio. Cerca de quinze desses diabretes ocupavam o recinto, metade encarnada em seus avatares e a outra metade circulando no mundo astral. Suas formas espirituais eram pútridas, assustadoras a qualquer um que os visse, e mesmo em seus corpos materiais demonstravam carrancas estranhas, expressão maligna, e exalavam um odor nauseante. Usavam terno escuro, capote, chapéu, outros casacos de couro, calça de brim, macacão de trabalho, fumavam charuto, cachimbo, cigarrilha, e a maioria portava arma de fogo.
Os raptores são espíritos novatos, ainda muito apegados a carne. Seu único poder digno de nota é a capacidade de assumir a forma de qualquer criatura morta por eles, sugando-lhe a energia e a copiando nos mínimos detalhes, habilidade que eles usavam para se infiltrar entre os humanos, para corromper os terrenos e perverter sua alma.

O Demônio Bakuno

O nome do demônio era Bakuno, chamado por seus bajuladores de "o Forte", pertencia a casta dos baals, os torturadores do abismo, a ordem satânica análoga aos celestiais hashmalins.
Bakuno não era um mero espírito que ascendera na categoria infernal, era um dos anjos caídos, uma entidade antiquíssima que se unira a Lúcifer na rebelião contra o Arcanjo Miguel, sendo expulso para o Sheol, o Grande Poço ou apenas Porão, como se referem os diabretes mais toscos.
Conta-se que desde os tempos da República Romana Bakuno vagava pelo oeste da Itália. Ele era tão reverenciado pelo um culto latino que lhe oferecia sacrifícios, uma prática comum as religiões anteriores ao nascimento de Cristo. A seita ampliaria sua influência durante o governo de Júlio César, mas seus membros acabariam posteriormente condenados a forca, acusados de conspiração.
Depois de mortos, esses fanáticos adoradores de Bakuno se tornariam os seus primeiros servos-demônios, ajudando-o a conquistar novos domínios no inferno. O Forte coordenaria, daí por diante, sua própria hoste satânica, formada principalmente por raptores, diabos de baixa hierarquia, cuja tarefa é servir aos seus amos, atuando como mensageiros, espiões e soldados.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Há Mais de 100 Mil Anos

O relato a seguir aconteceu há mais de cem mil anos, quando a casta dos ishins foi ordenada a destruição da espécie humana. O mundo era então coberto por uma extensa crosta polar, os mares se haviam endurecido, o céu se fechara numa só nuvem de escuridão e granizo.
Por todo esse tempo, nos campos brancos ao norte da África, a Deusa que Arde meditava, envolta no manto escaldante do lótus. Faltava pouco para que o mortais perecessem, para que toda humanidade sucumbisse, e a Centelha Divina era, então, a única salvaguarda dos pobres terrenos, era a chama que aquecia seus lares, a luz que penetrava na noite, o sopor que lhes esquentava a caça.
Com os braços apoiados sobre os joelhos, as costas eretas, a Deusa que Arde desafiava o poder dos arcanjos, que enviaram um de seus arcontes para destroná-la. Confiante em sua tarefa, Andril, o Anjo Branco, ou o Deus Branco, como também era chamado, materializou-se diante da ruiva. Deu um passo na direção da flor e a encarou seriamente, imaginando os louros da batalha, a consagração estaria por vir.
Mas a Deusa que Arde não se moveu, não prestando nenhuma atenção a sua chegada, atitude que o deixou furioso. Focalizando toda a energia em suas divindades, ele a cercou com uma névoa de densidade profunda, criando um casulo de gelo que apagou as pétalas em brasa, resfriando-lhe o corpo, tornando-a mais humana, quase mortal, com as madeixas escorridas sobre os ombros, as sardas agora mais vividas pontilhando o nariz.
-- Desprezzou-me anteriormente, Centelha. -- O arconte não esquecia seus votos. -- E no entanto aqui estou eu, pronto a cobrar minha vingança, avançou um metro contra ela. -- Será morta por congelamento -- e continuou falando, a medida que caminhava. -- Esmagarei sua ousadia, acabarei com sua arrogância -- os olhos piscavam de tanta ira. -- Conheça a mais formidável das minhas técnicas e saiba que foi por meio dela que a venci. -- Estendeu o braço para tocá-la, quando enfim a ruiva se ergueu. -- Peço que não faça isso --  a voz era um sussurro, porque fazia séculos que ela não falava. -- Suas habilidades tem pouca serventia neste lugar.
Dessa vez, foi o Anjo Branco que não lhe deu ouvidos, tão certo estava de sua conquista. Segurou-a pelo queixo, mas ao encostar nela algo inesperado ocorreu. Súbito, a aura da Deusa que Arde cresceu, dilatou-se num orbe de magma. O globo se alastrou em uma indescritível detonação colorida, uma mescla de fogo, lascas de gelo, jatos de água e lufadas de vento, que foi aumentando até se condensar numa descomunal redoma de plasma.
O estouro jogou Andril para longe, através das planícies, crestou os seus dedos, cegou-lhe a retina, derreteu toda a neve no entorno, revelou o chão de terra, os tufos de relva, as pequenas folhas que nasciam entre as pedras. Depois, o poder radiante subiu numa coluna, trespassou as nuvens para além dos espaço, reaquecendo os gases da atmosfera, tirando da órbita o astro moldado pelo Deus Branco, o satélite que obstruía os raios do sol.
Quando a explosão assentou, a entidade de mechas rubras inspirou o ar. O ar puro. O ar da primavera. O oxigênio das plantas. O cheiro das flores. Orquídeas. Camélias. Rosas. Girassóis. Grãos de pólen. Gramados verdejantes. Sob os galhos das árvores, um passarinho cantou. Um canário. Penas azuis. De onde ele viera? Como resistira? O mundo estava acordando. O planeta estava respondendo, estava vivo.
Cada canto da terra celebrava. Comemorava o fim do inverno. Os esquilos saíram das tocas. Insetos zumbiram. O orvalhos escorreu pelos sulcos nos troncos. Pequenas abelhas logo construíram seus favos. Os rios correriam de novo.
Perto dali, Andril jazia no solo, o corpo queimado, o rosto em carne viva, os ossos a mostra, a túnica colada a pele, derrotado por sua própria malícia.
O poder da vida, era algo tão lindo, tão precioso, um tesouro a ser preservado, não destruído. O firmamento se abriu. O sol renasceu. Assim terminou o penúltimo cataclismo enviado pelos arcanjos para exterminar a raça humana, a Era Glacial. Penúltimo cataclismo porque o último foi o Dilúvio.

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

O Império Khmer

O Império Khmer foi uma dinastia de reis que governou o Camboja entre séculos IX e XV, estendendo-se também, em seu apogeu,  a Tailândia, ao Vietnã e ao Laos.
Um dos templos principais (O Templo Bayon), uma série de cinco torres de forma cônicas, construídas em degraus, simulando imensas ogivas de arenito. A disposição dessas torres são: quatro nas pontas e uma no centro, copiava o esquema de uma mandala, o desenho sagrado do cosmo segundo a crença hinduísta. Suas paredes de rocha clara se enegrecem com o tempo, as escadarias estão cobertas de musgo.
O enorme portão desse antigo palácio é guardado por duas esculturas que representavam o rosto sorridente do deus Indra, ostentando brincos nos lóbulos esticados.
Sobre os muros existiam painéis que ilustravam as apsáras, como eram chamadas no Camboja, dançarinas seminuas da corte Khmer, retratadas em poses sensuais, dando a impressão de movimento.
O sítio, outrora palco de cerimônias religiosas, parecia uma intricada obra de arte, pois nenhum canto sequer era plano. Cada parede, cada passagem, cada corredor era talhado, alguns com desenhos que mostravam batalhas do exército real, outros com imagens de santos e heróis.
Estátuas de monarcas jaziam nas esquinas, muitas quebradas pela erosão, ocultas por folhas de capim, e em seguida a entrada uma comissão de cinquenta figuras de rocha, com deuses de um lado e demônios do outro. Os aposentos internos eram mais baixos, escuros por dentro, e vários haviam sido completamente abraçados por raízes de árvores, tendo suas portas lacradas.
O relato acima foi descrito pra mim pelo Anjo Denyel, um anjo exilado a serviço dos malakins, na guerra do Vietnã, agindo como "Anjo da Morte".
Supõe-se que nunca mais será encontrado esse templo, abaixo está um relato atual sobre ele, mais algumas curiosidades, ao final mostrarei uma foto tirada pelo próprio anjo Denyel.


O maior centro urbano construído no século XIX encontrava-se no Sudeste Asiático, poderíamos, no mínimo, suspeitar que isso era um mero despeito às crescentes nações capitalistas européias que despontavam nesse período. Para derrubar tal desconfiança os estudos da Real Sociedade Geográfica Britânica lhe apresentariam a cidade de Angkor, principal centro da civilização khmer.
Formado por volta do século VIII, o império khmer chegou a dominar uma extensa região que envolvia os atuais territórios do Camboja, do Mianmar e Laos. Desenvolvendo-se em uma porção isolada do sudeste asiático, os khmer conseguiram a estabilidade necessária para o desenvolvimento de seus costumes e tradições ao longo dos séculos. Alguns conflitos eram deflagrados com os javaneses, que almejavam controlar porções continentais da Ásia.
Foi no século IX que os khmer empreenderam a formação de seu império. Após a fuga do príncipie Jayavarman II das mãos dos javaneses, o povo khmer organizou um grande exército que conquistou os primeiros territórios do vindouro império khmer. Superando os longos períodos de seca da região, as dinastias khmer alcançaram a expansão de seu povo através de um complexo sistema de irrigação responsável por garantir fartas colheitas de arroz espalhadas pela planície cambojana.
Com o crescimento da população e a expansão do território, os khmer tornaram-se uma civilização hidráulica que via na fertilidade de suas terras e na autoridade monárquica os grandes ícones de sua adoração religiosa. A água e o rei eram motivos para a construção de vários templos no interior do território. Somente no século XII, que os khmer sofreram com a invasão promovida pelo reino Champa. Depois de quase um século de dominação, o imperador Jayavarman VII conseguiu retomar a posse do império e, depois de dominar uma vasta região, criou a cidade de Angkhor.
Com passar dos anos a cidade tornou-se um importante centro comercial visitado por povos estrangeiros, como chineses e indianos. As mulheres tinham grande participação nessas atividades e chegavam a ocupar posição de destaque entre os khmer. Muitas delas eram responsáveis pelo controle de importantes cargos públicos do império. Em meio a tantas conquistas e uma ampla rede sócio-econômica o Império khmer parecia não sofrer qualquer tipo de ameaça.
No entanto, a partir do século XIII, as disputas em torno de uma monarquia sem um definido sistema sucessório originou a ruína desse povo. Ao mesmo tempo, os ataques promovidos pelos povos vietnamitas e tailandeses começaram a enfraquecer a supremacia khmer. Em 1431, Angkor foi vítima de um grande saque promovido por tailandeses.
Além dos conflitos internos e ataques estrangeiros, o colapso da economia khmer também foi outro motivo para o fim dessa vasta civilização. O desgaste do solo e a falta de recursos hídricos foram outros fatores levantados para o desaparecimento da civilização khmer. Com o passar do tempo, a crise econômica foi alvo de uma grande diáspora que deixou os templos e as cidades khmer abandonadas em meio à selva do Sudeste asiático.

O Templo Bayon

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Os Elohins

Os elohins, assim como as demais ordens angélicas, constituem parte essencial do Plano de Deus. Eles foram originalmente criados para auxiliar os sentinelas, os primeiros anjos enviados a terra no intuito de ensinar e guiar os seres humanos. Quando os sentinelas foram banidos, a casta assumiu a tarefa de se infiltrar nas cidades e aldeias para semear o conhecimento do bem e do mal, permitindo que os mortais governassem suas próprias escolhas, uma função diferente dos ofanins, cujo trabalho é redimir os terrenos.
Os elohins não são necessariamente generosos, como é o caso dos anjos da guarda, eles atuam, até hoje, como educadores, num sentido mais amplo do termo, apresentando as duas faces da mesma moeda, jamais desrespeitando o livre-arbítrio, conforme era o desejo de Yahweh. Desde então, adotaram corpos e moradas no reino físico, perdendo o contato com os alados do céu, depois jurando neutralidade na guerra civil.
Os elohins são os únicos que não possuem príncipe, tampouco um comando centra. Não bastasse, são capazes de disfarçar a aura, camuflando-a com uma energia congênere a humana, tonando-se, portanto, virtualmente indetectáveis ao redor do planeta.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Cortinas de Aço

No linguajar celeste, Cortinas de Aço são divindades, ou técnicas, que "trancam" áreas do tecido, impedindo que um anjo desmaterialize, portanto a única maneira de alcançar a passagem era pela Haled, e na teoria tudo o que precisava fazer era seguir a trilha comum.
O mundo dos homens é um lugar de contrastes, e assim tem sido por milhares de anos. Por vezes ele se apresenta tão mais cruel que o próprio inferno, com sua natureza caótica e seus personagens grotescos.
Outras, prova-se uma casa de esperança, repleta de amor e ternura, povoadas por criaturas notáveis.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Manuscrito Sagrado dos Malakins (parte 02)

Houve um tempo, muito anterior ao surgimento do homem, em que os anjos governavam a terra. Onipotentes e absolutos, eles voavam livres no céu primitivo, sobrevoavam os mares, esquadrinhavam o solo, executavam danças espiraladas em volta do sol, fertilizavam o trabalho de Deus. Começou então o sétimo dia, e com ele o alvorecer da espécie terrena. Preservada da influência celeste, a nova raça se consagrou como entidades únicas, inteligentes, e passou a governar o planeta, primeiro, a partir da escuridão das cavernas, depois em fortalezas de mármore e granito, para enfim tocar o céu em espigões de aço e concreto.
Embora inflados de amor e paixão, dos corações humanos germinavam também ódio e ganância. Os massacres começaram logo nas primeiras migrações, com as tribos nômades devastando aldeias rivais, roubando suas terras, pilhando seus cofres. Essa selvageria desagradou os arcanjos, os regentes supremos do universo, que decidiram acabar com os mortais, esterilizando lagos e rios, destruindo cidades e portos.
Havia, porém, alguns que depositavam esperanças nos homens, entre eles estava Gabriel, o Mestre do Fogo, que recursou a obedecer as ordens homicidas de seu irmão, o arcanjo Miguel, dando início a guerra civil, um confronto que se alastrou pelas sete camadas do paraíso e secionou duas facções de alados: os novos rebeldes, que lutavam em defesa da palavra de Deus, e os legalistas, unos pelo desejo de exterminar os terrenos.
Quando essa mesma guerra se agravou, tanto Gabriel, o comandante dos revoltosos, quanto Miguel, seu tirânico parente, determinaram o Haniah, o Retorno, convocando todos os anjos que estavam no plano físico para lutar as pelejas no céu, e assim a terra foi esvaziada.
Alguns poucos foram autorizados a ficar, assumindo a posição de observadores, garantindo a manutenção da trégua estabelecida no mundo dos homens. Desde então, esses desgarrados, ou apenas "exilados", como conhecidos vagam solitários de país em país. Disfarçados de pessoas comuns, eles presenciaram o fim do período gótico e a queda de Constantinopla; assistiram a expansão do Islã, as grandes navegações e as revoluções da Europa; testemunharam a colonização nas nações africanas e a extinção dos imperadores e reis.
Quando o século XX raiou no teatro da história, o tecido da realidade, a barreira mística que separa os reinos físicos e espiritual, adensou-se. Os novos meios de comunicação e transporte levaram o progresso aos cantos mais distantes do globo, pervertendo os nódulos mágicos, apagando o poder dos velhos santuários, revertendo os últimos vértices, afastando os mortais da natureza divina.
Isolados no Sexto Céu, incapazes de enxergar o planeta justamente pelo adensamento do tecido, a casta dos Malakins, cuja função é estudar os movimentos do cosmo, solicitou ao príncipe Miguel a criação de uma brigada que descesse a Terra para pesquisar o avanço dos tempo. Relutante em abrir mão de seus capitães, ele ofereceu o serviço dos exilados, que havia milênios atuavam na sociedade terrestre, alheios as batalhas do paraíso.
Destacados, então, para servir sob as ordens dos Malakins, esses exilados foram removidos de seus cargos originais e reorganizados sob a forma de um esquadrão de combate. Sua tarefa, a partir de agora, seria participar de guerras humanas, de todas as guerras, fantasiados de meros soldados, para anotar as façanhas militares, o comportamento das tropas e depois relatá-los aos seus superiores celestes.
Esse esquadrão tomou parte em todos os conflitos do século XX, das pútridas trincheiras de Verdun as praias da Normandia, das selvas da Indochina a decadência da União Soviética. Embora muitos não desejassem matar, era exatamente isso que lhes foi ordenado, e o que infelizmente acabaram fazendo.
Entre os outros querubins, esse grupo foi visto como uma turba de genocidas, lutadores desonrados, cheios de vícios carnais. Por sua natureza errante e até certo ponto obscura, eles nunca chegaram a ter um nome oficial, a não ser pela óbvia alcunha que os caracterizava.
Foram chamados de Anjos da Morte.

Manipulação da Magia

Os primeiros seres humanos a manipular a magia foram os atlantes, que conjuravam seus encantos sem a necessidade de versos, rituais ou objetos. Seus adversários, os reis de Enoque, antecessores dos homens modernos, com menos aptidão para a mágica, desenvolveram então um sistema próprio de feitiçaria que incluía cerimônias, ingredientes e às vezes até sacrifícios. Os atlânticos, e por conseguinte os anjos, chamavam esse método de “magia suja”, a qual, apesar de um tanto primitiva, foi a única tradição que sobreviveu ao dilúvio, sendo herdada por outras civilizações terrenas, como os Babilônicos, que com o passar dos séculos a adaptaram as suas culturas.
Afora os hashmalins, que convivem com consciências impuras e portanto tem certo contato com a bruxaria, a mágica é um assunto obscuro para a maioria dos celestiais.