domingo, 9 de outubro de 2016

O Sheol, Orcus

O Sheol é, desde a queda de Lúcifer, dividido em nove reinos, governado por nove duques satânicos. Dentro desses reinos há incontáveis territórios, chamados “províncias”, controlados por barões ou baronesas. Há províncias de vários tamanhos e senhores igualmente distintos. Uns são anjos caídos, outros lilins, alguns são antigos deuses pagãos que aderiram as fileiras abismais, e há ainda os que nasceram como seres humanos e, após falecidos, galgaram seu posto.
Orcus, que respondia diretamente ao obeso duque Mammon, era reconhecido como o senhor dos mortos, daí seus súditos se parecerem com cadáveres ambulantes. Seu rosto era essencialmente humano, mas o nariz imitava o dos porcos e as pernas também tinham características suínas, como pelos marrons e cascos flamejantes. Os chifres eram de carneiro, a cauda lembrava a dos ratos, e o abdome, roliço, fazia jus à sua alcunha: o Gordo.
Com quase três metros de altura, esse gigante monstruoso exibia uma pentagrama na testa, um símbolo associado aos bruxos, aos feiticeiros e a magia negra. Cultuado como um deus pelos etruscos, depois pelos romanos.
Orcus exigia sacrifícios de seus adoradores, ele dizia melhor, se os sacrificados fossem crianças. Na mão esquerda portava um cetro e na direita agitava uma mangual.
Diferentemente do paraíso, o inferno recebe milhões de almas a cada dia, e os confrontos servem para eliminar os mais fracos, promover os mais fortes, tornando-os ainda mais competentes.
Essa disputa vil, cruel e desonrosa é cotidiana para os novatos e se estende aos senhores mais velhos, com todos trabalhando para superar seus rivais, conquistar mais poder, usurpar os vizinhos, roubar seus domínios. Em um lugar onde os concorrentes são imortais, é preciso abrir caminho à força, por meio de intrigas, escaramuças, traições e todo tipo de recursos disponíveis.
O que mais transbordava no inferno, não era o ódio, o desespero ou a angústia, era a solidão. Superlotado de espíritos maléficos, não havia, entre duques, escravos e barões, em quem confiar um momento de crise, o que só os tornava a cada dia mais vis.

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