quinta-feira, 9 de junho de 2016

Constantinopla - O Fim de Uma Era

Constantinopla, a Rainha das Cidades, a capital do Império Bizantino no ponto mais oriental da Europa. Se alguma coisa restara da glória dos césares, era Constantinopla que a detinha. Centro da Igreja Ortodoxa e cerne da cultura grega, a cidade guardava, ao fim da Idade Média, o saudosismo de uma época de patrícios e imperadores, gravada em mármore e ouro. Mas o passado longo terminaria em cinzas.
Depois de mil anos de trevas, a Idade Média chegava ao fim. Um novo poder muçulmano se levantava no leste e avançava para o Ocidente como um tigre faminto a caçar sua presa. Os turcos otomanos, sob o comando do sultão, ameaçavam a Europa. Primeiro, invadiram a península Balcânica e derrotaram os cristãos europeus que vieram libertá-la. Depois de um curto período de estagnação, durante o qual os islâmicos combateram uma ofensiva mongol, as guerras começavam no oeste. Em pouco tempo, todo o Império Bizantino estava sob o jugo turco, a exceção de sua capital, Constantinopla.
Constantinopla, outrora chamada Bizâncio, era uma cidade grega encravada no estreito de Bósforo, até que, em 330 d.C., o imperador romano Constantino, o Grande, a transformou na capital do Império Romano do Oriente, a segunda metrópole dos césares. Sua cultura era uma eclética congregação das artes grega, romana e cristã. Seus cidadãos, cristãos ortodoxos, não respondiam ao papa e tinham seu próprio patriarcado.
Consideravam bárbaros os homens do Vaticano. No apogeu, esse reino oriental estendia-se do sul da Itália até a Síria e a Armênia, quando então os muçulmanos apareceram no teatro da história.
Em 1439, o imperador de Bizâncio, Constantino XI, reconheceu que a capita não resistiria ao assalto dos otomanos. Em uma última tentativa desesperada, engoliu o orgulho e foi a Roma propor a união das Igrejas do Oriente e do Ocidente, esperando, assim, receber o auxílio de que precisava para expulsar os invasores. Mas, apesar da união, o monarca encontrou um duplo fracasso. O povo, mesmo sofrido, não aceitou bem o acordo, e assim nenhum soldado foi enviado para o leste. Depois, os turcos e acotovelavam nas muralhas, e dali em diante a queda de Constantinopla era só questão de tempo. 
Em janeiro de 1453, o imperador recebeu novo alento, com a chegada de dois navios genoveses sob o comando do célebre guerreiro Giovanni Glustiani, um general que assumiu o comando das tropas e lutaria até a última gota de sangue pela cidade castigada. Mas o exército otomano era imenso. Calcula-se que o sultão Maomé II dispunha de trezentos mil homens contra nove mil defensores. Ademais, os agressores contavam com artilharia, que aos poucos minava a resistência das muralhas.
Os tambores otomanos rufavam ao longe, enquanto seus guerreiros se preparavam para a batalha final. Em meio a confusão, uma missa solene era celebrada na fabulosa Igreja de Santa Sofia, com suas cúpulas colossais e seus ângulos curvilíneos. Nas ruas da metrópole, um cortejo deixava a basílica, e nele tomavam parte todos os habitantes civis de Constantinopla. À frente, os sacerdotes entoavam salmos e carregavam imagens de santos que, achavam, protegeriam a cidade contra a ofensiva noturna.
A cruz e o crescente -- murmuro a figura --. Um mesmo Deus, dois inimigos distintos. Os portões de Constantinopla cederam, e cinquenta mil turcos avançaram para as ruas. Nas avenidas, homens de armadura completa cruzavam espadas contra as cimitarras de seus invasores. O clangor do metal inundou os becos, como uma triste sinfonia de morte. Começava a ofensiva otomana, que prosseguiria por toda a madrugada.
Por duas vezes os muçulmanos foram repelidos, até que uma flecha perdida atravessou a couraça de um italiano moreno. Para o infortúnio dos defensores, era Giovanni Giustiniani, o general do exército. O moral dos homens caiu, um guerreiro de armadura reluzente tomou seu gládio e avançou pessoalmente ao comando. O bravo era ninguém menos que o próprio imperador. O soberano foi cercado e, depois de vencer cinco homens, uma lança perfurou-lhe o pulmão. Constantino XI estava morto, e os turcos ocupavam a cidade.
Percebendo a derrota, o pânico apoderou-se dos moradores, que fugiam aos milhares. Uma multidão correu para o porto, tentando embarcar nos navios ancorados. Outros procuravam refúgio no interior da Igreja de Santa Sofia, acreditando que seu caráter sagrado os pouparia de uma morte violenta.
Nas praças e nas ruas, a carnificina começava. Todos que fossem encontrados com armas nas mãos eram abatidos, fossem homens os mulheres, ricos ou pobres. Enquanto isso, os atacantes esquadrinhavam sistematicamente todos os bairros da cidade em busca de espólios.
Antes do sol nascer, o incêndio consumia os bairros mais altos. Os prisioneiros foram feitos escravos e, pela manhã, o sultão Maomé II recitou a prece muçulmana de quarta-feira no altar-mor da Igreja de Santa Sofia. A cruz que encimava a cúpula da basílica foi substituída pelo Crescente Islâmico, e os mosaicos cristãos foram cobertos com cal.
Eis que morreu a última cidade romana. E assim teve o fim da Idade das Trevas, afogada na chacina do tempo. Era o princípio da Idade das Luzes.

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