sábado, 11 de março de 2017

Desvendando O Egito (Um Só Deus)

No final das contas, Tutancâmon era alguém que merecia tanto destaque? Um faraó obscuro teve seu nome resgatado do esquecimento apenas por ter sua tumba intacta.
Bem, é importante deixar claro que Tut veio de um período conturbado da história do Egito e merece que gastemos alguns parágrafos para explicá-lo. Trata-se de uma transição inédita na história da Antiguidade de um período em que o politeísmo deu lugar à primeira menção histórica de monoteísmo.
Quando o faraó Amenófis III morreu, depois de um longo reinado de cerca de 40 anos, em que prosperaram a paz e o esplendor artístico no Egito, seu filho Amenófis IV assumiu o trono. Ele, Amenófis, era filho da Décima Oitava Dinastia e da rainha Tié. Foi criado no palácio de Malkata, no sul da cidade de Tebas. Não conhecem muitos detalhes sobre sua infância, porque não era hábito entre os antigos egípcios documentar a vida das crianças da família real. Algumas fontes dão conta de que era fisicamente débil e que não lhe agrava as atividades relacionadas a caça e o manejo de armas.
O jovem Amenófis não deveria ser faraó, pois o cargo estava visado para seu rmão mais velho, o príncipe Tutmés, filho de Amenófis III com Gilukhipa, uma esposa secundária. Porém Tutmés morreu logo e o cargo de "Filho Maior do Rei" passou para o jovem. Um detalhe: Amenófis havia sido educado para se tornar sacerdote do Templo Rá, o deus solar.
Assim, o jovem herdeiro tornou-se rei aos 15 anos, por volta do ano 1364 a.C. Muitos acreditam que ele já estivesse casado nessa época com aquela que seria sua consorte real para sempre e se tornaria um nome tão misterioso quanto o do marido: Nefertiti, cujo nome significa "a mais bela chegou". Por uito tempo pensou-se que, pela tradução do nome, que Nefertiti seria estrangeira, mas hoje a maioria dos egiptólogos acredita que era egípcia mesmo.
Aparentemente, a união do casal foi uma imposição da mãe de Amenófis, que seria também tia de Nefertiti. Como os dois se tornaram um casal cheio de afetos, a posição de Nefertiti atingiu um nível político sem precedentes.
No início, Amenófis teria introduzido um programa de obras públicas, que começou com a construção de quatro templos dedicados a uma divindade solar secundária então chamada Aton, ao redor do templo de Amon em Karnak, Tebas. Esse ato foi visto por muitos pesquisadores como uma tentativa de fazer uma fusão entre essas duas divindades.
Num desses templos, chamado Hutbenben (Benben, o nome inicial do Deus Aton), pode-se ver a rainha Nefertiti como oficiante dos rituais de adoração da divindade. Esses templos eram construídos sem telhado e com blocos de pedra com cerca de 50 centímetros de comprimento e 25 centímetros de largura e altura, conhecidos hoje como "talat" ("árvore", em árabe).
Já estava claro que o novo faraó se preocupava mais com o espírito do que com o corpo. Mas o fato é que sua predileção por Aton não demorou a ser percebida e logo outros atos do novo faraó começaram a desagradar sacerdotes do culto tradicional.
Foi no quinto ano de reinado que Amenófis resolveu trocar seu nome. De Amen-hotep (que no original, que significa "Amon está satisfeito") mudou para Akhenato ("o espírito atuante de Aton"), que mostrava sua predileção do deus Aton. Akhenaton também se declarou filho e profeta do seu deus e que Aton era a única divindade que deveria ser cultuada, sendo ele mesmo o único representante legítimo dessa divindade.
Curiosamente Aton era originalmente uma manifestação visível do deus Rá-Horakhti e já era mencionado nos textos das pirâmides, talhados nas paredes daqueles monumentos. Todas as outras divindades estavam assim relegadas a um segundo plano, o que acarretaria seu posterior desaparecimento. Assim surgiu o monoteísmo.

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