segunda-feira, 20 de março de 2017

Desvendando O Egito (Os Períodos Históricos)

Comecemos pelo período arcaico, que se inicia com a primeira unificação do país sob o faraó lendário Menés. O aglomerado de nomos, que ainda não é bem um país, reúne-se sob o comando de Menés e começa a tradição faraônica, que estabelece sua capital na cidade de Tinis (também grafada como Tis). Ninguém sabe ao certo, onde ela se localizava, mas há uma tendência a identificá-la na atual cidade de Girga, na margem oeste do Nilo.
O processo de unificação iniciado por Menés foi levado adiante por 18 reis e duas dinastias diferentes, que governaram o país durante 400 anos. Os pesquisadores ainda debatem muito sobre esse período. Para alguns, foi Menés quem transferiu mais tarde a capital para Mênfis (atual cidade do Cairo), enquanto outros insistem em dizer que essa mudança ocorreu séculos depois.
Seja com for, durante esse período o país cresceu muito, anexou novas terras e enviou expedições comerciais para Núbia (atual Sudão), Líbano e Sinai. Aqui também surgiu o papiro e começou o hábito de registrar as transações comerciais, o que contribuiu para que o governo ficasse ainda mais forte e centralizado. Alguns papiros médicos desse período sobreviveram e as construções de pedra começaram a ser enterrados em mastabas, um túmulo que possuía a forma de um tronco de pirâmide, com paredes inclinadas em direção a um topo plano de menores dimensões que a base. É depois desse período que apareceriam as conhecidas pirâmides.
No fim da Segunda Dinastia, dois reis brigaram pelo trono e provocaram uma divisão do reino. Surgiu em seguida o Antigo Império, em que o governo havia evoluído para o formato da teocracia e o faraó passou a reinar absoluto. O Egito era rico e desenvolvido. O país foi dividido oficialmente em nomos e cada chefe que os governava era ligado ao faraó por laço de sangue. Foram enviadas expedições em busca de ouro, cobre e turquesa, o que resultou na anexação de mais territórios.
Uma das primeiras pirâmides e também uma das mais conhecidas fora da região de Gizé é a Pirâmide de Degraus, construída em Saqqara pelo faraó da Terceira Dinastia Djoser (também grafado de Zhoser). Na Dinastia seguinte, foram construídas as Pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, que coincidiu com o período de introdução do culto ao deus-sol Rá. Essa foi a fase áurea da construção daquele tipo de monumento.
Na Quinta Dinastia, as pirâmides já tinham um tamanho menor. Na Sexta Dinastia, os avanços na Arquitetura, Escultura, Pintura, Navegação, Medicina e Astronomia apareceram com força total. Foi neste período que apareceu o calendário de 365 dias.
Quando surgiu a Sétima Dinastia, começou também o chamado Primeiro Período Intermediário, em que houve um enfraquecimento do poder faraônico. O último faraó daquela Dinastia, Pepi II, governou por 94 anos e sua idade avançada enfraqueceu seu comando. Pouco depois, o país passaria por uma seca terrível e a fome assolaria tudo e todos. E o deus encarnado nada podia fazer a respeito.
Esse período foi a Sétima até a Décima Dinastia. Nesta última, o poder central estava praticamente desaparecido. Os nomarcas faziam o que podiam para aplacar a fome do povo. Os reis que estavam em Mênfis se chamavam faraós, mas não eram reconhecidos fora de sua cidade. Foi quando surgiu uma nova divisão entre Alto e Baixo Egito. Uma família unificou o Baixo Egito, a partir de Heracleópolis enquanto outra governava o Alto Egito, a partir de Tebas.
Quando a Décima Primeira Dinastia foi fundada pelo faraó Mentuhotep, a querela teve fim, com a vitória para os que governavam a partir de Tebas. Foi ele quem reunificou o país e deixou Tebas como capital. Começava assim o Médio Império, que iria da Décima Primeira a Décima Quarta Dinastia.
Aqui também começou o culto a uma nova entidade. Amon era o deus principal de Tebas, a entidade da criação. Terminou por ser fundido com Rá e originou a entidade conhecida como Amon-Rá.
O faraó passou novamente a ter o poder reconhecido mas sem o poder absoluto do passado. A força dos monarcas foi mantida e alguns chegaram mesmo a ter seus próprios exércitos. Porém, o comando político continuava nas mãos do faraó.
Na Décima Primeira Dinastia, o Egito reatou suas relações comerciais com outros países e voltou a explorar riquezas no Sinai e na Núbia. Os cofres do Estado estavam novamente cheios e a Arte e a Arquitetura passaram por um novo período de crescimento. Chegamos agora ao Segundo Período Intermediário, iniciado, de acordo com alguns egiptólogos, pela Décima Quinta Dinastia, quando os hicsos se estabeleceram como governantes do Baixo Egito para depois dominarem também o Alto Egito. Nas duas dinastias anteriores, os faraós governaram a partir de duas localizações diferentes, Mênfis e Avaris, esta última uma das cidades erguidas com o trabalho escravo dos hebreus. Os governos eram curtos e tumultuados, o que provocou uma nova divisão do reino.
Depois houve um aumento de imigração de pessoas que vinham da Ásia e da Palestina. Os hicsos (que significa governantes estrangeiros em egípcio) logo subiram na estrutura social e tomaram o poder. Eles foram os responsáveis pela introdução de objetos como o carro de guerra puxados por bois e a utilização de cobre na confecção de armas. Apresentaram também o tear vertical, os instrumentos musicais e novos alimentos como a azeitona e a romã.
De início, os dois governos se davam bem até que um representante do Alto Egito chamado Sekkenenre Tao foi insultado pelo governo hicso e começou uma nova guerra entre as duas metades do Egito. Somente quando foram expulsos é que o país estava pronto para o Novo Império.
Amósis, que expulsou os invasores, foi o fundador da Décima Oitava Dinastia e do Novo Império, que durou até a Vigésima Dinastia. Com os militares apoiando-o, o herói de guerra tirou o poder dos monarcas e tornou o Egito uma potência imperialista. Foi neste período que governaram alguns dos nomes mais conhecidos da história egípcia, como a rainha Hatshepsut, Tutancâmon e Ramsés II.
Depois de Amósis veio Amenófis I, que estendeu os limites do império até a Núbia e a Palestina; Titmés I, que reforçou a crença em Amon, continuou a expansão territorial e foi o primeiro faraó a construir seu túmulo no famoso Vale dos Reis, o mais importante sítio arqueológico daquele país, visto que muito do que sabemos hoje sobre a história daquele período veio das escavações das várias tumbas lá encontradas.
Durante a Décima Nona e a Vigésima Dinastias, os faraós continuaram a realizar expedições militares, anexar novos territórios e a trazer mais escravos, entre eles os hebreus. A cultura também se desenvolvia a todo vapor, com a utilização de novos materiais e a construção de colossais estátuas em homenagem aos faraós.
Depois da morte de Ramsés XI, último faraó da Vigésima Dinastia, o Egito voltou a se dividir em dois reinos e daí para frente passou por período de unificação e divisão com poucos momentos de crescimento entre a Vigésima e Trigésima Dinastias. Foi um período marcado pela decadência, quando territórios foram perdidos, houve invasões, guerras civis e o governo caiu nas mãos de diversos povos, entre eles cushitas, líbios, assírios, etíopes, babilônios e persas. Somente quando Alexandre, o Grande, conquistou o país é que houve um período de estabilidade. Algum tempo depois surgiu a Dinastia Ptolomaica, que seria a última dinastia faraônica.
Alexandre ordenou a construção da cidade de Alexandria, que reunia a maior coleção de manuscritos do mundo e possuía um farol que foi uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Quando os ptolomeus tomaram o poder, após a morte de Alexandre, trouxeram um período de estabilidade, mas logo começaram a se embebedar pelo poder e se tornaram egocêntricos e arrogantes. Essa situação estendeu-se até a morte de Cleópatra. E desde então o Egito perdeu seu elo com o passado glorioso e entrou numa nova fase, em que predominavam mesmo as novas religiões como o cristianismo copta e mais tarde o islamismo.
E assim terminamos nossa viagem pela história dos faraós.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Desvendando O Egito (Origem dos Egípcios)

Com absoluta certeza, o Egito está ligado de maneira indissolúvel ao rio Nilo, sua dádiva dos deuses. Alguns historiadores acreditam que os egípcios teriam começado a se agrupar em suas margens por volta do ano 5500 a.C., quando já havia algumas comunidades agrárias que se formavam na região sul (o alto Egito). Esses primeiros egípcios deveriam ser nômades e caçadores que viram o potencial da região e trocaram a caça pela agricultura graças aos recursos naturais que o solo das margens apresentava.
Logo começaram a perceber que o rio transbordava entre os meses de julho e outubro (período conhecido como época das cheias), ficava algum tempo naquela posição e depois voltava ao nível normal. Era o lodo, rico em substâncias orgânicas que ficava para trás, o principal componente para o desenvolvimento de suas plantações. O presente que o rio deixava era encarado como fertilidade. Sua figura derramava água de jarros ou levava mesas e bandejas com alimentos.
Seja como for, o lodo trazido pelo rio deixava a terra com uma coloração preta em contraste com o tom vermelho do deserto, considerado o reino dos mortos. Foi naquelas terras que os nobres e os faraós construíram seus famosos túmulos.
Estima-se que tenha sido no período Pré-dinástico (anterior ao ano 5100 a.C., quando ainda não haviam famílias governantes) que os egípcios tenham começado o trabalho de irrigação das terras férteis do Nilo. Levaram as águas para regiões mais afastadas do leito do rio, construíram diques para controlar as cheias e começaram a criar animais como o carneiro, a cabra, a vaca e o burro. Essas atividades contribuíram para que ciências como a Matemática e a Geometria começassem a se desenvolver. Pouco depois já trabalhavam objetos de pedra e cobre, modelavam e pintavam vasos, usavam óleos como perfume e malaquita (mineral usado como pigmento em pinturas verdes antigas até 1800 a.C.) nos olhos para se protegerem dos efeitos solares. Também já fabricavam cerveja e casas de adobe, um tijolo cru feito com argila e palha.
Mais ou menos nesse período é que surgiu também a escrita hieroglífica. Os primeiros registros de textos datam da época da Primeira Dinastia (aproximadamente entre 3200 a.C.). Alguns pesquisadores acham que, justamente por ser bem elaborado, esse sistema já estava em desenvolvimento muito antes dessa época. Hoje conhecemos seu funcionamento graças aos esforços do pesquisador francês Jean-François de Champollion que, em 1821, decifrou as inscrições da Pedra de Rosetta, gravada em 196 a.C., com um texto dedicado a Ptolomeu V, um dos faraós do período de decadência.
Outra curiosidade está no fato de que nosso atual sistema de calendário, com 365 dias por ano, também foi uma invenção dos antigos egípcios. Eles também dividiam o ano em 12 meses, mas com cinco dias de cada período.
Depois que esse período inicial de estabelecimento encerrou-se, as comunidades agrárias começaram a se transformar em nomos, ou seja, comunidades autônomas que tinham como chefes políticos os nomarcas. Assim surgiram as já citadas regiões do Alto e do Baixo Egito. A primeira unificação aconteceu por volta do ano 3200 a.C., sob a égide de um faraó cujo nome parece hoje mais uma lenda do que uma realidade: Menés, sobre o qual falaremos ainda neste capítulo. Começa assim o período dinástico que divide a história do Egito em quatro períodos:

  • Antigo Império: entre 3200 e 2235 a.C.
  • Médio Império: entre 2060 e 1650 a.C.
  • Novo Império: entre 1580 e 1085 a.C.
  • Império Tardio: entre 1085 e 323 a.C.
Essas são apenas algumas datas aproximadas, já que quase tudo na história do antigo Egito é passível de ser discutido. Depois de 323 a.C., após a morte de Alexandre, o Grande, que conquistara o país em 332 a.C., começa o domínio da Dinastia Ptolomaica, que leva muitos pesquisadores a rejeitar esse período como parte integrante do Egito faraônico. Mas o fato é que, após a morte de Alexandre, Ptolomeu, um de seus generais, tomou o país para si também o título de faraó, que passou para seus descendentes. Por um breve período de tempo (cerca de 300 anos), o desenvolvimento foi voltado para as margens do Nilo. Mas quando a rainha Cleópatra VII, a mesma que cortejou Júlio César e Marco Antônio, morreu, o país passou a ser uma mera província do Império Romano nas mãos de Otávio César, mais tarde Augusto. Acabava aí o Egito faraônico como o conhecemos.

domingo, 12 de março de 2017

Desvendando O Egito (Os Faraós do Egito)

O exemplo de Tutancâmon, é mais que o suficiente para ilustrar o fascínio que a figura do faraó exerce até hoje em nossa civilização. A imagem que chegou até nós foi a de governantes déspotas que eram soberanos em todos os sentidos. Considerados encarnações de deuses na terra, eram mais do que simples figuras que cuidavam do país. Sua vontade imiscuía-se até nos assuntos mais mundanos e cotidianos de seus súditos.
Esses conceitos, preservados por meio de sua escrita pcitórica chamada de hieróglifos, resistiram por mais de cinco mil anos a passagem do tempo em si. É claro que tanto a literatura quanto o cinema usaram e abusaram desses retratos e passaram a nós um ideia que somente recentemente começou a se modificar sobre o papel dos faraós.
O importante para quem não é um egiptólogo e estuda ao assunto de maneira informal é saber que o faraó (termo egípcio que significa "casa grande") era o senhor do Egito. Tudo o que lá havia, das coisas maiores ou menores, era de sua propriedade. O que estava de acordo com o conceito geral de que o rei era considerado um deus entre o egípcios. E justamente por ter essa "descendência", recebia como missão zelar e proteger seu povo. Um detalhe curioso: a tal "casa grande", a que se refere a palavra faraó, designava mesmo a moradia do soberano, mas não se sabe ao certo quando ou como o termo passou a definir o próprio rei. Alguns pesquisadores estimam que isto possa ter acontecido em algum ponto entre os anos de 1400 e 950 a.C.
Grande parte do poder do Egito vinha do fato de que seu povo vivia numa teocracia, ou seja, apenas deus encarnado podia governar. Essa diferença no estilo de gerenciar sua nação mostrou-se útil, pois ao contrário de seus vizinhos, que possuíam cidades bastantes independentes entre si, o Egito era um estado forte e centralizado.
A sociedade egípcia estava, de fato, dividida e quatro grandes classes: o faraó, claro, ficava no topo; logo abaixo vinham os nobres e os funcionários palacianos (que eram os sacerdotes, escribas e oficiais militares); depois vinham os mercadores, artesãos, operários e camponeses; e por fim os escravos, que eram conquistados e guerras ou ficavam naquela posição por não terem como pagar os impostos.
Essa aparente autonomia do faraó em mandar e demandar tinha um limite. Afinal, nem todos sabia ler ou escrever naquele tempo e cabia aos escribas essa tarefa. Eram eles que "traduziam" a vontade do soberano e cuidavam de ações como a contabilidade do reino, a arrecadação dos impostos e as negociações me geral, E mesmo o luxo do faraó era, de uma maneira ou de outra, sustentado pelo camponês que, todo ano, era obrigado a passar um excedente de sua produção ao faraó. Essa era a riqueza que financiava a vida opulenta desses soberanos, de sua família e até dos funcionários do palácio. Parte dessas contribuições era transformada em recursos para construção de grandes obras públicas, enquanto outra parte não era negociada e ficava armazenada para períodos de baixa colheita.
Assim, cada ato do governo egípcio era definido pelo representante das chamadas dinastias, uma família que reinava por certo tempo. Num período de nada menos que três mil anos, pode-se observar avanços maiores ou menores em vários campos, incluindo científicos, tudo de acordo com a simpatia do faraó por esta ou aquela atividade. Eram eles quem determinavam quais os templos que seriam destruídos, quais os países que seriam enfrentados em guerras, entre outras coisas. Em compensação, foram um dos primeiros povos a fazer uso de uma escrita elaborada, conhecer ciências como a Medicina, a Matemática e a Astronomia, além de conseguir reaproveitar regiões desérticas.

Desvendando O Egito (Tutankhaton)

Dizem que Smenkhkare reinou por cerca de dois anos até que, aos oito anos de idade, o jovem Tutankhaton subiu ao trono. O que se sabe sobre seu reinado é ainda mais motivo para especulações. Para alguns pesquisadores, Smenkhkare era o título dado aos co-regentes do faraós. O que teria reinado com Akhenaton seria um nobre, chamado Panhese, da alta estirpe da Amarna, casado com Meritaton, filha mais velha de Akhenaton. Esse misterioso faraó, com o apoio dela, foi quem o sucedeu.
Ambos teriam sido executados em Amarna juntamente com todos os seus moradores por mando de Ay, um futuro faraó, mas vizir na época, que queria o trono para si.
Curiosamente, Tutacâmon e sua irmã Ankhesenamon sobreviveram a matança e foram levados a Tebas a fim de se casarem e se tornarem reis. Ele tinha na época nove anos e ela, onze. Por causa da pouca idade do casal real, especula-se que os verdadeiros governantes tenham sido Ay e Horemheb, dois altos funcionários do tempo de Akhenaton. Ay seria o pai de Nefertiti e Horemheb general do exército real.
O jovem faraó só alterou o seu nome para Tutancâmon como todos conhecem no quarto ano de seu reinado. Sua esposa fez o mesmo, num gesto de rejeição as doutrinas religiosas de Akhenaton, desde então considerado "o faraó herege". Os deuses antigos foram restaurados e o fim da guerra religiosa declarado.
Um documento marcou para sempre a situação caótica que o Egito viveu na época de Tutacâmon. Trata-se da chamada "Estela da Restauração", encontrada no terceiro pilote do templo de Amon em Karnak. Lá está descrito como os deuses, relegados a uma situação de decadência, atiraram o país num estado de confusão.
Assim, segundo a Estela, o rei mandara fazer estátuas novas dos deuses antigos, e restaurar seus templos e cultos, devolvendo assim o poder aos antigos sacerdotes.
Tut faleceu aos 19 anos em 1324 a.C. Ao que tudo indica, seu túmulo ainda não estava pronto, então tiveram que apelar para um menor que, segundo alguns, teria sido projetado na verdade para algum alto funcionário, talvez Ay. O fato é que foi enterrado por lá e esquecido após a tentativa de roubo pelos ladrões de túmulos, que teriam sido pegos no ato pelos guardas da necrópole, os responsáveis por substituir os selos da tumba.
Akhesenamon, a viúva, envia uma carta a Suppiluliuma I, rei dos hititas, pedindo um dos filhos daquele rei como marido. Como os dois povos eram inimigos, foi uma atitude estranha,  mas que mostrou o quanto a rainha estava com medo da situação no Egito. O documento, preservado até hoje, pergunta aonde está o filho do falecido rei, ao que a rainha responde que não tem nenhum. O rei hitita decidiu então lhe enviar um filho, que nunca chegou ao seu destino, talvez morto por espiões de Ay ou Horemheb.
A rainha não vê outra alternativa a na ser se casar com Ay, que então teria algo entre 60 e 70 anos de idade. Algum tempo depois ela morre misteriosamente e posteriormente é a vez de Ay morrer. Apesar de tudo, Ay respeitou a memória de Tutancâmon, o que não aconteceu com Horemheb, que se tornou faraó contando com apoio maciço do povo, já que a família real estava toda morta, não havia descendentes e ele mesmo era um herói de guerra. Foi ele quem roubou muitos dos monumentos de Tutancâmon e substituiu o nome dele pelo seu.

Desvendando O Egito (Akhenaton)

O palácio do rei tinha 800 metros e se erguia ao longo do eixo principal da cidade. Ao norte da construção, ficava uma espécie de jardim zoológico.
Akhenaton teve seis filhas com Nefertiti e, com uma rainha secundária, Kia, um filho recebeu o nome de Tutankhaton ("a imagem viva de Aton").
Como o faraó Akhenaton só prestava atenção nos assuntos que envolviam Aton terminou por descuidar dos aspectos práticos da administração de seu reino. Entre o 8º e 12º ano de sua regência, Akhenaton iniciou uma perseguição aos antigos deuses, em especial aqueles ligados a Tebas, como Amon, Mut e Khonsu. Esses nomes deveriam ser apagados de todas as incrições por todo o país. Arqueólogos descobriram que essa perseguição incluía até as pessoas mais simples, que fizeram o mesmo com os nomes daquelas entidades em pequenos objetos.
No 12º ano, ocorreu uma espécie de cerimônia de reinauguração da cidade, que reuniu delegações da Ásia, Líbia, Núbia e das ilhas do Egeu. Enquanto isso, o império egípcio começava a desintegrar-se. O faraó já não atendia mais os pedidos de ajuda de seus aliados no Oriente Médio, o que fez com que os temerosos hititas conquistassem os portos egípcios na Fenícia e que os mitânicos, aliados do Egito, fossem literalmente varridos do mapa. O país logo perdeu o controle sobre as minas de ouro na Núbia, importantes para a sua economia.
No total foram 17 anos de reinado. No 15º um misterioso co-regente chamado Smenkhkre apareceu. Para alguns, tratava-se da rainha Nefertiti que assumiu o cargo, para outros tratava-se na verdade do irmão de Tutancâmon. O caos seguiu-se e uma guerra religiosa, fomentada pelos sacerdotes da antiga religião, começara.
Nefertiti e Kia desapareceram no 15º ano de reinado. O próprio faraó faleceu no 17º ano. Não se tem certeza do que pode ter acontecido a sua múmia, que pode ter sido queimada ou colocada em algum lugar do Vale dos Reis.

Desvendando O Egito (Cidade de Aton)

Todas as outras divindades do Egito foram relegadas a um segundo plano. O que terá incentivado o faraó a agir assim jamais se saberá. Especula-se que foi uma maneira de combater o poderio do clero de Amon, que predominava na época.
O passo seguinte foi abandonar Tebas e mudar a corte para o local onde seria construída uma cidade em homenagem ao único deus. Aton não tinha um local próprio e Akhenaton decidiu criar um. Surgiu assim a cidade a Akhenaton ("horizonte de Aton"), hoje conhecida como Amarna, o nome de uma aldeia egípcia próxima as ruínas. Começou assim o período da chamada arte amarniana, do qual o exemplar mais conhecido é o busto de Nefertiti, exposto no Museu de Berlim, na Alemanha.
Parte da população que se fixou por lá seria composta por agricultores, militares, escribas e artífices que acompanharam o rei em seu projeto. Estimulam que a população tenha chegado a mais ou menos vinte mil habitantes. No centro da cidade estava o grande templo de Aton, com aproximadamente 800 metros de comprimento e 300 metros de largura. Sua arquitetura era muito diferente das demais da mesma época, pois não havia salas escuras, apenas pátios ao ar livre que levavam ao altar do deus Aton. Já que se tratava de uma divindade solar, não fazia muito sentido haver escuridão em algum recinto.

sábado, 11 de março de 2017

Desvendando O Egito (Um Só Deus)

No final das contas, Tutancâmon era alguém que merecia tanto destaque? Um faraó obscuro teve seu nome resgatado do esquecimento apenas por ter sua tumba intacta.
Bem, é importante deixar claro que Tut veio de um período conturbado da história do Egito e merece que gastemos alguns parágrafos para explicá-lo. Trata-se de uma transição inédita na história da Antiguidade de um período em que o politeísmo deu lugar à primeira menção histórica de monoteísmo.
Quando o faraó Amenófis III morreu, depois de um longo reinado de cerca de 40 anos, em que prosperaram a paz e o esplendor artístico no Egito, seu filho Amenófis IV assumiu o trono. Ele, Amenófis, era filho da Décima Oitava Dinastia e da rainha Tié. Foi criado no palácio de Malkata, no sul da cidade de Tebas. Não conhecem muitos detalhes sobre sua infância, porque não era hábito entre os antigos egípcios documentar a vida das crianças da família real. Algumas fontes dão conta de que era fisicamente débil e que não lhe agrava as atividades relacionadas a caça e o manejo de armas.
O jovem Amenófis não deveria ser faraó, pois o cargo estava visado para seu rmão mais velho, o príncipe Tutmés, filho de Amenófis III com Gilukhipa, uma esposa secundária. Porém Tutmés morreu logo e o cargo de "Filho Maior do Rei" passou para o jovem. Um detalhe: Amenófis havia sido educado para se tornar sacerdote do Templo Rá, o deus solar.
Assim, o jovem herdeiro tornou-se rei aos 15 anos, por volta do ano 1364 a.C. Muitos acreditam que ele já estivesse casado nessa época com aquela que seria sua consorte real para sempre e se tornaria um nome tão misterioso quanto o do marido: Nefertiti, cujo nome significa "a mais bela chegou". Por uito tempo pensou-se que, pela tradução do nome, que Nefertiti seria estrangeira, mas hoje a maioria dos egiptólogos acredita que era egípcia mesmo.
Aparentemente, a união do casal foi uma imposição da mãe de Amenófis, que seria também tia de Nefertiti. Como os dois se tornaram um casal cheio de afetos, a posição de Nefertiti atingiu um nível político sem precedentes.
No início, Amenófis teria introduzido um programa de obras públicas, que começou com a construção de quatro templos dedicados a uma divindade solar secundária então chamada Aton, ao redor do templo de Amon em Karnak, Tebas. Esse ato foi visto por muitos pesquisadores como uma tentativa de fazer uma fusão entre essas duas divindades.
Num desses templos, chamado Hutbenben (Benben, o nome inicial do Deus Aton), pode-se ver a rainha Nefertiti como oficiante dos rituais de adoração da divindade. Esses templos eram construídos sem telhado e com blocos de pedra com cerca de 50 centímetros de comprimento e 25 centímetros de largura e altura, conhecidos hoje como "talat" ("árvore", em árabe).
Já estava claro que o novo faraó se preocupava mais com o espírito do que com o corpo. Mas o fato é que sua predileção por Aton não demorou a ser percebida e logo outros atos do novo faraó começaram a desagradar sacerdotes do culto tradicional.
Foi no quinto ano de reinado que Amenófis resolveu trocar seu nome. De Amen-hotep (que no original, que significa "Amon está satisfeito") mudou para Akhenato ("o espírito atuante de Aton"), que mostrava sua predileção do deus Aton. Akhenaton também se declarou filho e profeta do seu deus e que Aton era a única divindade que deveria ser cultuada, sendo ele mesmo o único representante legítimo dessa divindade.
Curiosamente Aton era originalmente uma manifestação visível do deus Rá-Horakhti e já era mencionado nos textos das pirâmides, talhados nas paredes daqueles monumentos. Todas as outras divindades estavam assim relegadas a um segundo plano, o que acarretaria seu posterior desaparecimento. Assim surgiu o monoteísmo.

Desvendando o Egito (A Maldição de Tutancâmon)

O Egito foi, na verdade, o lar de uma das civilizações mais impressionantes de todos os tempos. Sua história engloba um total de três mil anos que vai desde a unificação dos reinos do Alto e do Baixo Egito até sua capitulação final como parte do Império Romano.
Apesar dos altos e baixos e das invasões estrangeiras que sofreram ao longo dos anos, os egípcios foram capazes de cultivar e desenvolver sua cultura e sociedade com segurança.
É possível, entretanto, que a maioria das pessoas hoje pensem num único nome quando vem à mente aquele país: Turancâmon. Não por este obscuro faraó ter sido um dos governantes mais poderosos ou influentes de seu tempo, um título que vai merecidamente para Ramsés II, também chamado de “O Grande”.
O motivo é simples: muito se fala sobre as riquezas que formavam a manifestação física do poder do faraó. Apesar dos esforços dos arqueólogos, muitos esoteristas insistem em afirmar que as pirâmides não eram túmulos dos faraós e sim câmaras de iniciação para sacerdotes e outros adeptos do esoterismo.
Isso se deu por na Grande Pirâmide, por exemplo, apenas um sarcófago vazio foi encontrado. Não havia sinal de múmia ou ataúde.
Isso nos leva de volta a Tutancâmon. Se ele não fez grandes conquistas nem deixou seu nome como um grande governante, qual o interesse nele? A resposta não podia ser mais materialista: seu fabuloso tesouro. Além de objetos preciosos como ouro e pedras, foi graças aos objetos cotidianos encontrados naquela diminuta tumba que podemos ter um vislumbre de como era a vida na época conturbada em que ele viveu.
É com esta fabulosa descoberta que começamos nossa viagem ao incrível e místico mundo do Egito Antigo.
A área que levaria a entrada da tumba de Tutancâmon estava delimitada entre a tumba de Ramsés II e a de Ramsés VI, próximas das quais foram ainda descobertos os restos de um povoado utilizado pelos operários que trabalharam na construção do sepulcro de Ramsés VI. Os primeiros degraus que levariam ao achado foram encontrados em 4 de novembro de 1922. A entrada da tumba estava com o selos intactos. Esse detalhe depois mostrou que havia um engano: os selos de fato estavam intactos, mas uma vez dentro do local descobrimos que havia um buraco numa das paredes, provavelmente feito pelos ladrões de túmulos.
O quinto Lorde Carnavon era um verdadeiro entusiasta da egiptologia, após abrir a tumba de Tutancâmon colocou-o entre os boatos que geraram a lenda da maldição da múmia. Carnavon foi encontrado inconsciente no Winter Palace Hotel. A causa oficial da morte indicava uma infecção causada pela picada de um mosquito (infectado com erisipela, uma infecção cutânea causada por bactérias e que tinha como sintoma dor extrema enquanto se barbeava. Dizem as lendas que, quando de sua morte, às 1h55 da manhã, as luzes da cidade do Cairo se apagaram. Enquanto isso, em Londres, sua cadelinha de estimação teria dado um uivo forte e sobrenatural, caindo morta e no mesmo instante.
Começava aí a lenda da maldição de Tutancâmon, que ninguém afirmava ter visto na tumba, mas que era extremamente conhecida de todos; Com ou sem maldição, o tesouro de Tutancâmon levou ainda um enorme tempo para ser retirado da tumba, catalogado e tratado corretamente. Objetos de valor, estátuas, carroças desmontadas, objetos pessoais, entre outros, maravilham as pessoas do mundo todo quando são expostos.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Desvendando o Egito (Introdução)

"Do alto destas pirâmides... Quarenta séculos vos contemplam!"
Esta é a frase atribuída a Napoleão Bonaparte quando este invadiu o Egito em 1799. Trata-se da frase mais conhecida e que exprime, como nenhuma outra, todo o fascínio que o país do faraós exerce sobre nós até hoje.
É tanta a atração, que não há como ficarmos inertes a esse passado. Só ao imaginarmos que as pirâmides e demais monumentos foram erguidos num tempo em que não havia nem sombra da tecnologia de hoje, coloca-nos cara a cara com os limites humanos e vemos como os egípcios conseguiram conquistar o que sempre almejaram: a imortalidade.
Nos próximos artigos você conhecerá a fascinante história do faraó Tutancâmon, hoje o faraó mais famoso do Egito, porque teve a sorte de ser inexpressivo o suficiente para que sua tumba ficasse intocada até ser descoberta por Howard Carter; nestes artigos você conhecerá os maiores faraós de todos os tempos; verá como as pirâmides foram erguidas; verá como surgiram os hieróglifos, uma das primeiras formas de escrita do mundo; visitará as múmias; lerá sobre os ladrões de túmulos, as maldições e o Vale dos Reis, o sucessor natural das pirâmides; e, por fim, poderá saber mais sobre a arte egípcia, que retrata o homem de maneira a permanecer assim para sempre.
Afinal, as areias do país do Nilo, quando tocam sua alma, são para sempre...

Aguardem!

quarta-feira, 8 de março de 2017

Luxúria no Inferno de Dante: O Pecado Mortal Contra o Ego

A primeira pergunta que talvez lhes venha a mente é por que a luxúria seria um pecado contra o ego, uma vez que é sempre direcionado a outra pessoa, tratando-se do uso de outro ser humano para a gratificação pessoal e sexual.
A noção de pecado de Dante é formada em grande parte pela obra do Santo Tomás de Aquino. Em sua célebre Summa Theologiae, Aquino defende que qualquer maldade ou pecado é uma forma de autodestruição. Ele supõe que, em princípio, a natureza dos seres humanos é boa e racional. Aquino acredita que essa natureza, a do animal racional, foi criada por Deus com o propósito de perseguir a bondade e, mais especificamente, as virtudes. Quando uma pessoa abandona esse propósito natural, fere a si mesma, pois fazer algo que não foi criada para fazer. Entra em guerra consigo mesma e com sua própria natureza.
Porque Aquino tinha essa visão peculiar do pecado? Um dos motivos é porque ele aceitava a afirmação de Boécio, de que a bondade e a existência são permutáveis. Em outras palavras, tudo que existe possui uma parcela de bondade, por ter sido criado por Deus.

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Sem Lembranças

Quando eu não conseguir me lembrar de mais nada vou me lembrar de você. A primeira vez que meus olhos viram um anjo em carne e osso. Vou me lembrar de seus olhos, do seu rosto, do seu sorriso e de você por completo. Vou lembrar do seu perfume, do seu toque e da sensação de amá-la. Mas, acima de tudo, vou me lembrar da sensação de olhar para a verdadeira beleza, interna e externa. Pois você é bela, minha amada, de corpo e alma, generosa de espírito e de coração. E nunca verei nada mais bonito do que você deste lado do Paraíso.